Na manhã dessa quarta-feira(4), o Grupo Escoteiro Cisne, na Granja
Viana, agraciou um dos seus membros com uma das mais importantes
medalhas do Escotismo: a "Medalha Cruz de Valor - Caio Viana Martins".
O homenageado foi o escoteiro Arthur Thomás Machline Silva, de 39 anos.
Arthur passou a fazer parte do Grupo Escoteiro Cisne em 2009 quando
a tropa escoteira se tornou um Grupo Escoteiro independente. O Grupo
Escoteiro Cisne faz parte do Instituto Cisne, organização do terceiro
setor que desde 1986 atende crianças, jovens e adultos com
deficiência mental/intelectual, ou, como preferimos nos referir, com
limitação de autonomia psicossocial.
O Grupo Escoteiro Cisne é o único Grupo Escoteiro no Brasil formado
somente por jovens com deficiência. Assim, cumpre esclarecer que
Arthur também é atendido no Instituto Cisne. Ele frequentou o
instituto em 1992 e saiu, retornando em julho de 2008. Passou a fazer
parte do Grupo Escoteiro Cisne em 2009 e permaneceu até julho de
2013.
O motivo da homenagem
No último dia 03 de abril, após a reunião escoteira, os jovens do
Grupo Escoteiro Cisne, se encaminhavam ao refeitório para o almoço,
quando o jovem Anderson, recém-chegado à instituição e ainda em período
de adaptação (e cujo grau de comprometimento da autonomia é bastante
significativo), mesmo sem saber nadar, atirou-se na piscina.
Dentro d’água, começou a se debater desesperadamente, sem conseguir
manter-se na superfície. Instantaneamente e sem pestanejar, o sênior
Arthur, que passava por perto, percebeu a gravidade da situação em que
se encontrava o colega e mergulhou, conseguindo impedir o afogamento e
salvando a vida de Anderson.
Após o ocorrido, conversando a respeito, Arthur disse que apenas fez o
que precisava ser feito, pois aprendeu que o escoteiro está sempre
alerta para ajudar o próximo.
Segundo o chefe do Grupo Escoteiro, Armando Paolillo, é importante
salientar que a atitude do jovem Arthur foi além do que se esperaria de
qualquer jovem com limitação de autonomia psicossocial, uma vez que suas
condições mentais e emocionais, diferentes daqueles considerados
“normais”, poderiam, com um grau de probabilidade muito grande,
acarretar um sentimento de desespero tão grande que o impossibilitariam
de tomar qualquer atitude nesse sentido.
Além disso, também deve ser levado em conta o grau de comprometimento
da autonomia, da compreensão e do controle emocional do jovem Anderson,
diante da situação desesperadora em que se encontrava, a qual
representou ao jovem Arthur, grande risco de perigo, uma vez que a
reação daquele à sua aproximação poderia ser desastrosa, e,
consequentemente, agravaria ainda mais a situação.
O grupo Escoteiro Cisne, diante dessa situação, entendeu a
importância do jovem ser agraciado com uma medalha e encaminhou ofício à
UEB – União dos Escoteiros do Brasil. "Mais do que um reconhecimento
oficial por sua bravura, destemor e prontidão para servir, a outorga da
medalha será também um marco na história do escotismo brasileiro, por
tratar-se o agraciado de pessoa com deficiência, que a sociedade costuma
rotular, segregar e desvalorizar, vendo-o como um ser-problema, e, no
entanto, o jovem mostrou que, com todos os seus problemas e
dificuldades, fez o que muitos considerados “normais” jamais teriam
coragem de fazer", dizia o documento.
A condecoração
Por se tratar de uma rara e importante condecoração, a mesma deve ser entregue preferencialmente pela diretoria regional ou nacional. Na manhã dessa quarta-feira, ela foi entregue ao jovem Arthur pelo Diretor Presidente da União dos Escoteiros do Brasil de São Paulo, Antonio Lívio Abraços Jorge.
A condecoração aconteceu após o hasteamento da bandeira e Hino
Nacional, durante a reunião escoteira que acontece toda quarta-feira na
sede do Instituto Cisne.
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