Os recursos federais de defesa civil estão batendo à porta das
prefeituras municipais, mas ainda não foram liberados pela lentidão dos
municípios em cumprir as exigências legais estabelecidas pelo governo
federal. No caso do Cartão de Pagamento de Defesa Civil, que destina
recursos para uso de ações de socorro, assistência e restabelecimento
de serviços essenciais, apenas cinco dos 139 municípios em situação de
emergência - Venha Ver, Caicó, Coronel João Pessoa, Antônio Martins e
João Câmara - finalizaram todo o trâmite.

Os 37 mil agricultores com direito ao Garantia-Safra no RN, esperam que as prefeituras consigam vencer os entraves burocráticos
Os
dados são da Coordenadoria de Defesa Civil do Estado. Para ter acesso
ao Cartão de Pagamento, o município precisa criar e regularizar as
Coordenadorias Municipais de Defesa Civil [Comdec], à luz da nova
legislação federal, a Lei 12608, de abril deste ano. Segundo o
coordenador de Defesa Civil, tenente-coronel Josenildo Acioli, além de
regularizarem a Comdec, esses municípios criaram o CNPJ específico
exigido por lei e fizeram a abertura de conta bancária.
"Eles
aguardam, agora apenas o envio do Cartão de Pagamento de Defesa Civil e
a liberação de recursos", informou coronel Acioli. Outros 66 municípios
criaram legalmente a Comdec e encaminharam à Defesa Civil Estadual a
documentação para abertura da conta. Coronel Acioli lamentou a demora
na resolução das pendências e afirmou que o governo vem fazendo sua
parte na orientação aos municípios.
Segundo ele, desde 2011 que
as prefeituras vêm sendo alertadas quanto às novas exigências para a
regularização da Comdec. "Atribuo essa demora à falta de vontade dos
prefeitos", afirmou coronel Acioli. Ele salientou que "quanto mais
rápido o município criar sua Coordenadoria, com CNPJ próprio e conta
bancária, mas rápido terá acesso aos recursos federais".
A
lentidão se estende ao Garantia-Safra, um benefício que no Rio Grande
do Norte deve beneficiar 37.108 agricultores em 118 municípios
potiguares. Segundo o delegado federal do Ministério do Desenvolvimento
Agrária (MDA), no Rio Grande do Norte, Raimundo Costa Sobrinho, até o
momento, apenas dois - Itajá e Taboleiro Grande cumpriram todo o rito.
Ou
seja, fizeram o pagamento do aporte municipal, a solicitação de
vistoria, a indicação de técnico vistoriador, a realização das
vistorias, a digitação dos laudos no sistema de verificação de perda do
Garantia-Safra e a comprovação de perda de, no mínimo, 50% da safra. Do
total de municípios que aderiram ao programa, 60 municípios potiguares
sequer iniciaram o trâmite exigido.
No caso de Itajá e Taboleiro
Grande, o número de agricultores beneficiados é de 124, o que não chega
a 0,5% do total de beneficiários no Estado. "Nossa preocupação",
afirmou Raimundo Costa, "é que no momento em que já deveríamos estar
nos preparando para a fase de pagamento do seguro, ainda existem
municípios que sequer solicitaram vistoria".
Dados do MDA
mostram ainda 20 municípios já fizeram o aporte de recursos mas não
solicitaram a vistoria; dez fizeram o aporte, solicitaram vistoria,
mas não iniciaram a análise in loco; onze municípios concluíram os
laudos, mas não fizeram o aporte de recursos e 17 solicitaram a
vistoria, obtiveram a liberação de análise por parte do MDA, mas não
iniciaram a averiguação in loco da perda agrícola, nem fizeram o aporte
financeiro.
Os recursos do seguro são provenientes do Fundo
Garantia-Safra, formado por contribuições da União, estados, municípios
e dos agricultores familiares. Para receber o benefício é necessário
que os pagamentos dos aportes estejam em dia. O valor pago ao
agricultor é de R$ 680,00.
O Garantia-Safra deve destinar para o
Estado cerca de R$ 25 milhões, dos quais 20% cabe aos municípios. No
último dia 8, o governo federal já liberou os recursos do
Garantia-Safra para 76.028 agricultores de 111 municípios, da Bahia e
de Minas Gerais. Os agricultores receberão a primeira parcela do seguro
pelas perdas sofridas na safra atual (2011-2012) agora em junho.
"Nós
ficamos na desvantagem", afirmou Raimundo Costa, "por causa dessa
lentidão". Ele atribui a lentidão à deficiência tecnológica e de
pessoal qualificado na área de agronomia. "A preocupação", disse o
delegado do MDA, "é que se tenha mais velocidade nesses procedimentos
para o acesso a essas políticas que estão garantidas".
Prefeituras reclamam de falta de apoio técnicoA
crítica de que os municípios estão trabalhando de forma lenta para
atender os requisitos federais não agradou os prefeitos. Eles rebatem e
dizem que o problema está na falta de estrutura da Emater - Empresa de
Assistência Técnica e Rural, para dar apoio aos municípios na execução
das vistorias de safra; e na "burocracia exagerada" da nova legislação
federal que vincula a obtenção de recursos ao Cartão Pagamento de
Defesa Civil.
"No meu município, já fizemos o aporte de recursos
há quatro meses, solicitamos apoio para a vistoria, mas até agora a
Emater não atendeu essa demanda", reclamou o prefeito de Riacho da Cruz
e presidente da Associação dos Municípios do Oeste Potiguar, Marcos
Aurélio de Paiva Rego. "A demanda por apoio técnico", disse o
prefeito, "é muito grande e a Emater não está tendo condições de
atender a todos".
"Não se pode culpar A, B ou C quando a
responsabilidade é conjunta", afirmou o prefeito de Lajes, Benes
Leocádio. Segundo ele, muitos municípios sequer possuem sinal de
internet, mas todo o trâmite processual tanto do Garantia-Safra, quanto
da criação do Cartão de Pagamento é eletrônico. Por determinação do
governo estadual, anunciada na reunião do Comitê Gestor da Seca, na
última segunda, 11, a partir de agora, a Emater dará apoio aos
municípios na elaboração dos laudos de vistoria exigidos pelo
Garantia-Safra.
Os prefeitos criticam o excesso de burocracia da
nova legislação e o que cham de "falta bom senso". "Se estamos em
estado de emergência e calamidade não acredito que seja necessário
tanta burocracia", afirmou Benes. Os prefeitos reclamam que a própria
Defesa Civil Estadual não tem estrutura suficiente para atender a
demanda. "Se percebe que municípios que cumpriram todo o rito, constam
com pendências para a Defesa Civil", criticou Marcos Aurélio.
Durante
toda esta semana, uma equipe da Secretaria Nacional de Defesa Civil
está vistando municípios da região Seridó para fazer um diagnóstico das
necessidades, da população afetada e da situação dos mananciais, e
orientar prefeitos e técnicos, segundo informou o sargento Afrânio da
Costa Santos, do Grupo de Apoio a Desastres da Secretaria Nacional de
Defesa Civil (Sedec).
Para os prefeitos também há morosidade do
governo federal, pois os municípios que estão aptos a receber os
recursos através do Cartão de Pagamento já deveriam ter sido
beneficiados. "Até agora, nenhum dos municípios que entregou tudo
recebeu recursos", criticou Benes.
Bolsa EstiagemSegundo
o delegado federal do MDA, no Rio Grande do Norte, Raimundo Costa
Sobrinho, a previsão é de que o governo federal comece a pagar o "Bolsa
Estiagem", no valor de R$ 400,00, a partir da segunda quinzena de
julho. Os Ministérios da Integração, do Desenvolvimento Agrário e do
Desenvolvimento Social já começaram a fazer o cruzamento de informações
entre o banco de dados do Garantia Safra e do Pronaf para definir
quantos e quais agricultores terão o benefício emergencial.
Terá
direito a receber o valor do Bolsa Estiagem os agricultores familiares
não aderidos ao Garantia-Safra. Segundo explicou Raimundo Sobrinho, o
agricultor ficará informado se é beneficiário, por nota no extrato do
cartão do benefício Bolsa Família. Os que não recebem o Bolsa terão
acesso a um cartão cidadão da Caixa.
Pelos cálculos da
delegacia do MDA, no Estado, cerca de 55 mil agricultores familiares
devem receber os R$ 400,00 do Bolsa Estiagem, que será pago em cinco
parcelas. De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura
(Fetarn) o número de agricultores no Estado chega a 95 mil, dos quais
pouco mais de 37 mil aderiram ao Garantia-Safra.
A
responsabilidade do pagamento é do Ministério da Integração Nacional. O
presidente da Fetarn, Ambrósio Lins, disse que, no semiárido, a perda
agrícola foi de 90% e que os agricultores pedem agilidade na liberação
do pagamento, principalmente os que não recebem o Bolsa Família.
RECURSOSO que os municípios precisam fazer para ter acesso aos recursos federais de emergência
1º passo-
Criar a Coordenadoria Nacional de Defesa Civil (Comdec), via lei
municipal, como Unidade Gestora de Orçamento, órgão da estrutura
administrativa do município
- Inscrever a Comdec no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica para obtenção de CNPJ próprio, vinculado ao CNPJ do municípios
- Nomeação de um representante legal que deverá apresentar a documentação necessária à abertura da conta de relacionamento.
2º passo-
Abrir conta de relacionamento específica no Banco do Brasil, em nome da
Comdec, com o CNPJ criado, visando a movimentação dos recursos federais
- Cadastramento das propostas de Adesão ao Cartão de Pagamento de Defesa Civil e de criação do Centro de Custo.
3º passo-
O representante legal deverá cadastrar os portadores dos cartões de
pagamento pelo formulário "Cadastro de Portador". Posteriormente, os
portadores devem comparecer a qualquer agência do Banco do Brasil para
cadastramento de senha individual, informando o número da agência e
conta de relacionamento que foi aberta para o Cartão de Pagamento de
Defesa Civil. O cartão será retirado, posteriormente, pelo portador, na
sua agência de relacionamento.
4º passoO
Estado e os municípios informarão ao Ministério da Integração Nacional
o número da agência e conta de relacionamento; o número identificador
do centro de Custo fornecido pelo banco do Brasil, quando da abertura
da conta; e o número da Comdec.
*Os formulários "Proposta de
Adesão ao Cartão de Pagamento"; "Cadastro do Centro de Custo" e
"Cadastro de Portador" estão disponíveis no site:
www.bb.com.br/Governo/Estadual/Dispendio/Cartoes/Defesa
Civil/Formularios
ProjetosGarantia-SafraÉ
um seguro, ou seja, uma ação de garantia de renda para os agricultores
em caso de secas ou enchentes que causem a perda de, pelo menos, 50% da
produção de grãos de algodão, arroz, feijão, mandioca, milho e outras
culturas. Têm direito ao benefício, no valor de R$ 680,00, pagos em
cinco parcelas de R$ 136,00, aqueles que tiverem feito a adesão ao
seguro e possuem renda de até 1,5 salário mínimo. O valor é pago por
meio de cartões eletrônicos disponibilizados pela Caixa Econômica
Federal. O valor anual pago pelo agricultor é de R$ 6,80.
Bolsa EstiagemÉ
um auxílio emergencial instituído pela lei federal 10.954/2004 para
assistir agricultores familiares com renda mensal de até 2 salários
mínimos, em áreas de calamidade pública ou situação de emergência com
reconhecimento federal. Para ter direito, o agricultor precisa possuir
a Declaração de Aptidão ao PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar); estar inscrito no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal; e não ter aderido ao Garantia
Safra 2011/2012. O valor de R$ 400,00 será pago em cinco parcelas de R$
80,00, junto ao pagamento do Bolsa Família. Os que não possuem esse
benefício, receberão um Cartão Cidadão da Caixa.
Cartão Pagamento de Defesa CivilÉ
um meio de pagamento específico disponibilizado a estados e municípios
e que destina recursos para ações de defesa civil, no tocante ao
socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços
essenciais. O cartão deve ser usado exclusivamente em situações de
emergência para aquisição de material, inclusive por meio da internet,
e contratação de serviços como carros-pipa; perfuração de poços; e
compra de alimentos e medicamentos. É vedado saque em espécie, compras
parceladas e uso no exterior. Governo Federal e estados podem monitorar
os gastos efetuados diariamente em todos os Centros de Custos.