A greve dos servidores estaduais da Saúde, o fechamento de unidades
básicas de saúde no município de Natal e a falta de assistência básica
nas cidades do interior do Estado agravaram ainda mais a situação da
maior unidade hospitalar do Rio Grande do Norte. No Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel, a situação é de caos. Apenas neste fim de semana, foram
realizados 490 atendimentos, sendo 307 de clínica médica e 115
internamentos, destes, 73 foram vítimas de acidente de motocicleta. Uma
média de 38 internações por dia. Por todos os corredores do Hospital,
pacientes se aglomeram em macas e cadeiras, totalizando 44 internados
nos corredores, destes quase a metade são do interior. Para agravar
ainda mais a situação, oito ambulâncias do Samu estão paradas em frente
ao Hospital, pois as macas estão “presas” com pacientes internados.
A diretora do Hospital Walfredo Gurgel, Fátima Pinheiro, explica que
diante da situação, está, desde o início da manhã, tentando transferir
pacientes para os municípios de origem, já que a maioria dos casos é de
clínica médica e de baixa complexidade e poderiam ser resolvidos nos
hospitais regionais ou nas unidades básicas de saúde dos municípios. A
direção estima que 70% dos pacientes internados são oriundos do
interior, de municípios como Lagoa Nova, Santa Cruz, Nísia Floresta, Bom
Jesus, Januário Cicco, Lagoa Salgada, Canguaretama, dentre outros.
“Não tem outra porta aberta, nem em Natal e nem no Estado. É o Rio
Grande do Norte todo dentro desse hospital. Fica difícil trabalhar desse
jeito e infelizmente ficamos nessa situação. Estou tentando transferir
as pessoas que podem ser transferidas, mas nos hospitais sequer atendem
ao telefone. Além disso, temos oito ambulâncias presas em frente ao
Hospital. Está todo mundo em greve e não podemos dizer não”, destacou a
diretora geral do Hospital Walfredo Gurgel.
A diretora Fátima Pinheiro conta que das seis salas do centro
cirúrgico, quatro estão interditadas. Na manhã de hoje, a direção do
Hospital Walfredo Gurgel conseguiu transferir quatro pacientes com
fratura exposta para o Hospital Deoclécio Marques de Lucena, em
Parnamirim. “As salas estão interditadas com pacientes com fraturas e os
ortopedistas não podiam fazer as cirurgias. No momento, só temos duas
salas para atender toda a demanda de urgência e emergência. Desde o
início da manhã que estamos conseguindo transferir pacientes, para, pelo
menos, liberar macas para subir pacientes para o centro cirúrgico, pois
estão sem macas até para levar os pacientes para o centro cirúrgico”,
ressaltou.
A alta demanda de pacientes dando entrada no hospital proporciona um
aumento no tempo de espera por atendimento. A diretora Fátima Pinheiro
relata que alguns pacientes estão sendo hostis por não se conformarem
com o tempo de espera por atendimento. “Vínhamos numa calmaria e agora
voltamos ao caos. Queria que os secretários de saúde do interior
compreendessem que não podem enviar para o Walfredo Gurgel pacientes com
cirrose hepática, pneumonia e diabetes. A rede básica tem que
funcionar. O trauma pode vir, mas que eles fiquem com os pacientes
clínicos, mas na prática, os municípios não tratam absolutamente nada.
Claro que eles sabem tratar, mas é mais fácil se livrar, colocar o
paciente em uma ambulância e mandar para o Walfredo Gurgel”, desabafou a
diretora. Ela conta que na quinta e sexta-feira da semana passada
conseguiu transferir 30 pacientes que precisavam de cirurgia ortopédica,
mas que pelo caos, não foi possível perceber diferença nos corredores.
O servente de pedreiro Francisco Severino dos Santos, de 49 anos,
sofreu um acidente de trânsito na noite deste domingo. Ele é um dos 490
pacientes que deram entrada no hospital neste fim de semana. Ele
precisou fazer uma pequena cirurgia na boca e teve escoriações por todo o
corpo. Apesar de sentir fortes dores, por falta de leitos para
internação, ele recebeu alta médica. Ele conta que o exame de raio-X que
foi feito não apresentou nenhuma anormalidade, mas as dores persistem.
“Eu não tenho condições nenhuma de ir para casa. Estou sentindo muitas
dores e acredito que o melhor lugar pra eu ficar é aqui, mas o caos está
grande e disseram que não tem mais vaga”, disse o paciente.
O diretor do Sindsaúde, João Antônio de Assunção, explicou que as
ambulâncias do Samu que estão paradas em frente ao Hospital não são
devido à greve dos servidores, mas pelo fato de não haver macas no
hospital para colocar os pacientes, que terminam “prendendo” as macas do
Samu. “O descaso no hospital é muito grande. Não tem vagas, não tem
leitos e nem onde os pacientes ficarem. Se tivessem onde colocar os
pacientes, as macas seriam liberadas e as ambulâncias estariam nas ruas
prestando serviço aos usuários. O caos no Walfredo não é devido à greve,
pelo contrário, a greve é para reivindicar melhores condições de
trabalho para prestar um melhor serviço ao usuário. Tudo isso hoje é um
reflexo do caos da saúde”, afirmou.
José Antônio disse que o comando de greve está garantindo o efetivo
de 30% de servidores trabalhando, principalmente, nos serviços de
urgência e emergência. “Mas tem setores que não podemos tirar ninguém
para a greve, como é o caso das UTIs, que já funciona no limite, pois o
número de funcionários é abaixo do necessário”, destacou.
A técnica de enfermagem da UTI Cardiológica, Lúcia Silva, considera
que a UTI está aberta por um “milagre”. “Desde 2011, quando se interna
um paciente na UTI Cardiológica, os pacientes saem com uma receita de
alto custo, pois é obrigação do Estado dar a medicação, mas isso não
acontece. Falta luva, medicações, muitas coisas que impossibilitam o
trabalho. Trabalhamos no limite. Um técnico de enfermagem no corredor
fica responsável por 17 pacientes e dessa forma não temos como dar
assistência boa a ninguém. Isso é injusto e o servidor está adoecendo
pela sobrecarga de serviço”, afirmou.
Fonte: JH