quinta-feira, 4 de julho de 2013

Henrique Alves usa avião da FAB para levar amigos e noiva para o jogo do Brasil no Maracanã

Foto publicada em uma rede social mostraria o presidente da Câmara Federal, Henrique Alves, assistindo ao jogo no estádio. Foto: Divulgação
Auxiliar no transporte entre o Brasil e as principais capitais da América do Sul, além de atender as necessidades das embaixadas, trazendo com isso uma maior integração entre os países do Mercosul e do continente sul-americano. No papel, esse é o objetivo do jato C99, segundo a Força Aérea Brasileira (FAB). Na realidade, as funções da aeronave vão bem mais além, sobretudo, quando diz respeito ao atendimento a vontades e desejos de lideranças políticas nacionais. Um exemplo disso foi o vôo feito por um C99 para levar o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, do PMDB, e parte da família, para ver a final da Copa das Confederações, entre Brasil e Espanha, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Essa, por sinal, foi a notícia mais lida do portal do jornal Folha de São Paulo durante toda a manhã de hoje.
Não era para menos, tanto que a matéria do jornalista Leandro Colon, de São Paulo, teve repercussão imediata nas redes sociais, fazendo a “FAB” ficar boa parte da manhã entre as palavras mais citadas no Twitter. A informação do voo de Henrique e família, publicada primeiro pelo noticiário paulista, por sinal, já era de conhecimento d’O Jornal de Hoje, mas a confirmação de que havia sido num avião da Força Aérea não tinha surgido.
Isso só aconteceu, realmente, com a Folha de SP, que chegou a publicar até o itinerário do vôo do jato C-99: O avião veio buscar Henrique e família em Natal, decolou às 19h30 de sexta-feira rumo ao Rio de Janeiro e retornou no domingo, às 23h, após o jogo. Família, aí, se compreenda como: a noiva de Henrique, Laurita Arruda, dois filhos e um irmão dela, o publicitário Arturo Arruda, com a mulher Larissa, além de um filho do presidente da Câmara. Um amigo de Arturo, segundo a Folha, teria ainda conseguido “carona” de volta no vôo para Natal.
Segundo o jornal, o jato C99 tem capacidade para 14 passageiros e, como havia lugares vagos, Henrique achou por bem convidar sete pessoas para embarcar na viagem que, por mais que o presidente da Câmara tivesse algum compromisso políticos na capital carioca, foram para o Rio apenas para ver ao jogo do Brasil. Tanto é que não viram problemas em tirar várias fotos e colocar nas mídias sociais para ilustrar a visita ao “Maraca”.
Se os “caronas” não tinham compromissos oficiais, ainda resta a dúvida se o parlamentar realmente tinha. Isso porque o presidente até informou que tinha solicitado o avião porque tinha um encontro com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), no sábado, e “como havia disponibilidade de espaço na aeronave, familiares acompanharam o presidente em seu deslocamento”.
No entanto, esse encontro não foi confirmado pela assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados, assim como também não foi registrada pela comunicação do prefeito carioca – a Folha ressalta que o “almoço” entre eles realmente aconteceu e ainda mais com a presença do senador e pré-candidato a presidência da República, Aécio Neves (PSDB-MG).
De qualquer forma, uma viagem para assistir a final da Copa das Confederações ou um almoço com perfil político com um dos líderes da oposição ao governo que Henrique Alves é aliado não parecem ser quadros que se encaixem no decreto 4244/2002, que disciplina o uso de aviões da FAB por autoridades. Afinal, por ele, os jatos podem ser requisitados só quando houver “motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente”.
REPERCUSSÃO
É importante lembrar que a viagem de Henrique Alves e a família ao Rio de Janeiro não rendeu apenas uma notícia que foi reproduzida nos principais veículos do Brasil – primeiro na Folha, depois no portal Terra, Uol e Globo.com. Repercutiu também em forma de comentários e – muitas – críticas em blogs e jornais, a postura do potiguar presidente da Câmara dos Deputados. O jornalista da Folha, Gilberto Dimenstein, foi um dos primeiros a tocar no assunto, publicando um texto nada amistoso, intitulado “Devolva hoje o dinheiro, deputado”.
Na curta dissertação, Dimenstein afirmou que “apesar das revoltas em todo o país, contra a corrupção e o desperdício, o presidente da Câmara, Henrique Alves, não se preocupou em levar a família para o Maracanã usando um avião da FAB. É simplesmente inacreditável a falta de percepção das consequências do que está ocorrendo no Brasil, onde a intolerância com os políticos e os partidos está aumentando, colocando em risco até mesmo a crença na democracia. Afinal, não há democracia sem partido”.
E não foi só. Segundo Dimenstein, “justamente nesse momento que o chefe de um dos Poderes comporta-se de forma desprezível com o dinheiro público, como se não soubesse que o assunto futebol e os estádios viraram símbolo de desrespeito. Será que eles não aprendem nunca e não perceberam que a sociedade está cada vez mais irritada e atenta? O mínimo que o presidente da Câmara deveria fazer é devolver o dinheiro das passagens aos contribuintes. E ainda pedir desculpas. E hoje”.
Essa, por sinal, não foi a única repercussão no jornal Folha. Vera Magalhães, editora do Painel, colocou um texto intitulado “‘Vôos da alegria’ são marcas do patrimonialismo”. Na análise, ressaltou que “o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), reeditou, ao requisitar avião da FAB para levar parentes e amigos de Natal ao Rio de Janeiro, para assistir à final da Copa das Confederações, uma velha e resiliente marca da política brasileira: o patrimonialismo”.
Como Vera Magalhães frisou, as redes sociais facilitaram tornar público o que, tradicionalmente, foi um costume dos políticos que raramente vinha à tona. “Graças à euforia dos parentes de Alves com a seleção, alegremente compartilhada em fotos sorridentes no Instagram, o repórter Leandro Colon puxou o fio da meada que liga o “voo da alegria” potiguar a outros famosos casos de confusão entre público e privado”, explicou a jornalista, citando outros casos semelhantes durante o texto.
Realmente, as mídias sociais ajudaram e muito na divulgação da notícia, aliadas a comentários irônicos dos “twitteiros de plantão”. “Tô querendo ir na Bahia ver minha vó. Será que o deputado Henrique me emprestava o avião da FAB? Viagem de Henrique e família no avião da FAB é batom na cueca. Não tem justificativa. Não tem perdão”, afirmou o jornalista Jackson Damasceno.
Além dele, Paulo Celestino colocou que “Henrique Alves gosta tanto de avião que quer batizar o novo aeroporto do RN com o nome do pai dele”. Miranda Sá escreveu que “Henrique Alves dá argumentos para protestos de rua: usou jato da FAB para ir ao Rio ver o jogo do Brasil”.
Alexandre Norman, Thyago Macedo e Lauro Rocha também ajudaram a ironizar o fato, tuitando, respectivamente, que: “FAB inaugura ponte aérea Natal-Maracanã visando os ‘menos abastados da classe média potiguar’”; “Depois da Revolta do Busão, teremos a Revolta do Avião (da FAB)?” e “Sério que a FAB lançou pacote turístico para a Copa das Confederações?”

Fonte: Jornal de Hoje

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