Na noite da quarta-feira passada, 24, por
volta das 22h, o Movimento dos Sem-terra e o Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi juntamente com os
agricultores da região de Apodi ocuparam terras que fazem parte dos
lotes desapropriados para o Perímetro Irrigado do Departamento Nacional
de Obras Contra a Seca (DNOCS) na Chapada do Apodi, mais precisamente no
quilômetro 69 da BR-405. A ocupação foi feita com o objetivo de
resistir ao projeto do Dnocs que consiste em desocupar as áreas dos
trabalhadores rurais que produzem Agricultura Familiar para que a
administração desta área seja feita por cinco empresas do agronegócio.
A região da Chapada do Apodi/RN vem se consolidando como uma das
experiências mais exitosas de produção de alimentos de forma
agroecológica e familiar do Nordeste, destacando o arroz, frutas,
criação de caprinos, ovinos e bovinos, projetos de piscicultura, além do
mel de abelha, maior produtora de maneira orgânica do país. Desta
forma, o projeto de irrigação configura-se em uma “reforma agrária ao
contrário: “Estão tirando as terras dos trabalhadores e trabalhadoras do
campo para dar pro agronegócio. Então, vamos ocupar e resistir pela
Chapada do Apodi”, é o que diz Damiana (MST, Carnaubais).
Desde o ano de 2011, terras da Chapada do Apodi estão sendo
desapropriadas para o Perímetro Irrigado. Centenas de famílias estão
sendo expulsas de suas terras para dar lugar a um projeto que, na visão
dos trabalhadores, vai destruir as comunidades camponesas e todo o
trabalho da Agricultura Familiar desenvolvido na região.
Cerca de 200 pessoas estão na ocupação: homens, mulheres e crianças.
Dona Francisca (Assentamento Nova Esperança – MST) garante que o número
de assentados resistentes deve crescer: “Estamos esperando muitos
companheiros que chegarão”. E completa: “A gente só consegue as coisas
na luta”.
Dentre as associações dos assentamentos da Chapada do Apodi na
resistência junto ao MST estão Laje do Meio, Nova Descoberta, Milagres,
Santa Cruz, Bamburral, Sítio do Góis. Seu Titico (64 anos agricultor e
apicultor), presidente da associação de Laje do Meio, Apodi, defende
que: “Se é pra vir recurso do Governo Federal, então que venha pra
Agricultura Familiar e não para o agronegócio que só vai poluir nossas
terras, nossas águas e explorar a nossa gente”.
Ivone Brilhante, presidente da associação de Sítio Góis, fala da
importância desta ação: “Desta forma nós acordamos pra luta e vamos
acordar o poder público para as nossas reivindicações”. Sobre o porquê
de estar lutando contra o projeto do Dnocs, Ivone responde: “Mesmo sendo
assentado, a gente não está seguro, pois o governo está tirando a gente
do campo pra dar as nossas terras para o agronegócio. Minha comunidade
não foi desapropriada nesta etapa, mas vamos ser atingidos num futuro
próximo porque nossas terras são vizinhas a Laje do Meio, por exemplo,
que já foi desapropriada e não é uma cerca que vai livrar nossas
hortaliças, nossa criação de caprinos, nossas abelhas do veneno que o
agronegócio vai usar pra plantar lá”.
A medida de ocupação pelo MST é apoiada por diversas instituições e
movimentos sociais como Marcha Mundial de Mulheres, CPT, Terra Viva,
ASA, CUT, Coopervida e pelo BR-405 e impediram o fluxo de transportes a
fim de dizer não ao projeto do Dnocs nas terras da Chapada. A
intervenção na BR-405 faz parte do ato do Dia do Trabalhador e
Trabalhadora Rural. Para o secretário do STTR Apodi, Agnaldo Fernandes,
os movimentos pretendem chegar ao diálogo e numa resolução para que os
homens e mulheres do campo possam continuar em suas terras produzindo
Agricultura Familiar.
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