terça-feira, 6 de agosto de 2013

Hospital Walfredo Gurgel realiza quase 500 atendimentos apenas neste final de semana

Dos 44 pacientes ‘internados’ nos corredores, metade são oriundos do interior. Foto: José Aldenir
A greve dos servidores estaduais da Saúde, o fechamento de unidades básicas de saúde no município de Natal e a falta de assistência básica nas cidades do interior do Estado agravaram ainda mais a situação da maior unidade hospitalar do Rio Grande do Norte. No Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, a situação é de caos. Apenas neste fim de semana, foram realizados 490 atendimentos, sendo 307 de clínica médica e 115 internamentos, destes, 73 foram vítimas de acidente de motocicleta. Uma média de 38 internações por dia. Por todos os corredores do Hospital, pacientes se aglomeram em macas e cadeiras, totalizando 44 internados nos corredores, destes quase a metade são do interior. Para agravar ainda mais a situação, oito ambulâncias do Samu estão paradas em frente ao Hospital, pois as macas estão “presas” com pacientes internados.
A diretora do Hospital Walfredo Gurgel, Fátima Pinheiro, explica que diante da situação, está, desde o início da manhã, tentando transferir pacientes para os municípios de origem, já que a maioria dos casos é de clínica médica e de baixa complexidade e poderiam ser resolvidos nos hospitais regionais ou nas unidades básicas de saúde dos municípios. A direção estima que 70% dos pacientes internados são oriundos do interior, de municípios como Lagoa Nova, Santa Cruz, Nísia Floresta, Bom Jesus, Januário Cicco, Lagoa Salgada, Canguaretama, dentre outros.
“Não tem outra porta aberta, nem em Natal e nem no Estado. É o Rio Grande do Norte todo dentro desse hospital. Fica difícil trabalhar desse jeito e infelizmente ficamos nessa situação. Estou tentando transferir as pessoas que podem ser transferidas, mas nos hospitais sequer atendem ao telefone. Além disso, temos oito ambulâncias presas em frente ao Hospital. Está todo mundo em greve e não podemos dizer não”, destacou a diretora geral do Hospital Walfredo Gurgel.
A diretora Fátima Pinheiro conta que das seis salas do centro cirúrgico, quatro estão interditadas. Na manhã de hoje, a direção do Hospital Walfredo Gurgel conseguiu transferir quatro pacientes com fratura exposta para o Hospital Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim. “As salas estão interditadas com pacientes com fraturas e os ortopedistas não podiam fazer as cirurgias. No momento, só temos duas salas para atender toda a demanda de urgência e emergência. Desde o início da manhã que estamos conseguindo transferir pacientes, para, pelo menos, liberar macas para subir pacientes para o centro cirúrgico, pois estão sem macas até para levar os pacientes para o centro cirúrgico”, ressaltou.
A alta demanda de pacientes dando entrada no hospital proporciona um aumento no tempo de espera por atendimento. A diretora Fátima Pinheiro relata que alguns pacientes estão sendo hostis por não se conformarem com o tempo de espera por atendimento. “Vínhamos numa calmaria e agora voltamos ao caos. Queria que os secretários de saúde do interior compreendessem que não podem enviar para o Walfredo Gurgel pacientes com cirrose hepática, pneumonia e diabetes. A rede básica tem que funcionar. O trauma pode vir, mas que eles fiquem com os pacientes clínicos, mas na prática, os municípios não tratam absolutamente nada.
Claro que eles sabem tratar, mas é mais fácil se livrar, colocar o paciente em uma ambulância e mandar para o Walfredo Gurgel”, desabafou a diretora.  Ela conta que na quinta e sexta-feira da semana passada conseguiu transferir 30 pacientes que precisavam de cirurgia ortopédica, mas que pelo caos, não foi possível perceber diferença nos corredores.
O servente de pedreiro Francisco Severino dos Santos, de 49 anos, sofreu um acidente de trânsito na noite deste domingo. Ele é um dos 490 pacientes que deram entrada no hospital neste fim de semana. Ele precisou fazer uma pequena cirurgia na boca e teve escoriações por todo o corpo. Apesar de sentir fortes dores, por falta de leitos para internação, ele recebeu alta médica. Ele conta que o exame de raio-X que foi feito não apresentou nenhuma anormalidade, mas as dores persistem. “Eu não tenho condições nenhuma de ir para casa. Estou sentindo muitas dores e acredito que o melhor lugar pra eu ficar é aqui, mas o caos está grande e disseram que não tem mais vaga”, disse o paciente.
O diretor do Sindsaúde, João Antônio de Assunção, explicou que as ambulâncias do Samu que estão paradas em frente ao Hospital não são devido à greve dos servidores, mas pelo fato de não haver macas no hospital para colocar os pacientes, que terminam “prendendo” as macas do Samu. “O descaso no hospital é muito grande. Não tem vagas, não tem leitos e nem onde os pacientes ficarem. Se tivessem onde colocar os pacientes, as macas seriam liberadas e as ambulâncias estariam nas ruas prestando serviço aos usuários. O caos no Walfredo não é devido à greve, pelo contrário, a greve é para reivindicar melhores condições de trabalho para prestar um melhor serviço ao usuário. Tudo isso hoje é um reflexo do caos da saúde”, afirmou.
José Antônio disse que o comando de greve está garantindo o efetivo de 30% de servidores trabalhando, principalmente, nos serviços de urgência e emergência. “Mas tem setores que não podemos tirar ninguém para a greve, como é o caso das UTIs, que já funciona no limite, pois o número de funcionários é abaixo do necessário”, destacou.
A técnica de enfermagem da UTI Cardiológica, Lúcia Silva, considera que a UTI está aberta por um “milagre”. “Desde 2011, quando se interna um paciente na UTI Cardiológica, os pacientes saem com uma receita de alto custo, pois é obrigação do Estado dar a medicação, mas isso não acontece. Falta luva, medicações, muitas coisas que impossibilitam o trabalho. Trabalhamos no limite. Um técnico de enfermagem no corredor fica responsável por 17 pacientes e dessa forma não temos como dar assistência boa a ninguém. Isso é injusto e o servidor está adoecendo pela sobrecarga de serviço”, afirmou.

Fonte: JH

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