Cerca de 200 médicos, residentes e estudantes saíram às ruas na manhã
desta terça-feira (23) para protestar contra às medidas apresentadas
pelo Governo Federal, como o Programa Mais Médicos e os vetos da
presidenta Dilma .Rousseff, ao Ato Médico, que normatiza o exercício da
Medicina. Além disso, os profissionais reivindicam por melhores
condições de trabalho, como forma de fixar os médicos no interior. O ato
de hoje faz parte da Greve Nacional dos Médicos e, segundo o Sindicato
dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed), o atendimento ambulatorial
nas unidades de saúde e os procedimentos eletivos estão suspensos e a
recomendação é que apenas os serviços de urgência e emergência estejam
funcionando.
A caminhada saiu da sede do Sindicato dos Médicos em direção ao
calçadão da rua João Pessoa. Com gritos de ordem contra a presidenta
Dilma, o ministro da saúde, Alexandre Padilha, e a governadora Rosalba
Ciarlini, os profissionais médicos pretendem intensificar os protestos
nos próximos dias. Segundo o calendário nacional de enfrentamento ao
Governo Federal, nos próximos dias 30 e 31, haverá uma nova greve
nacional. Nos dias 8 a 10, serão três dias de paralisação, que
coincidirá com o Encontro Nacional das Entidades Médicas.
O presidente do Sindicato dos Médicos no RN, Geraldo Ferreira Filho,
explicou que o protesto acontece em nível nacional contra o Programa
Mais Médico, que segundo ele é “a maior fraude jurídica que o país já
presenciou, pois explora mão de obra, fazendo de conta que está
ensinando, prometendo, depois de três anos, dar um diploma a um suposto
estudante, que na verdade está fazendo assistência à população”.
Geraldo reitera que a classe médica é contrária à ampliação de mais
dois anos na graduação de Medicina, bem como a importação dos médicos
estrangeiros sem revalidação. “O governo quer colocar esses médicos em
locais de trabalho onde eles não podem reclamar das condições e nem
possam pedir para ir para outro local, sob pena de serem devolvidos para
seus países. Isso é trabalho escravo. A medida é toda equivocada e traz
um prejuízo enorme, não apenas à Medicina, mas à assistência pública
brasileira”.
Geraldo Ferreira considera que a saúde no Rio Grande do Norte passa
por um processo de degradação da assistência, que supera a realidade dos
outros estados. “Está na hora de uma cobrança maior e mais efetiva de
priorização da saúde, porque o povo está desassistido e a linguagem do
Governo é de desativação de unidades. A única proposta que vemos é de
fechar seis hospitais regionais e isso vai promover o caos generalizado
na saúde pública”, destacou.
“A única voz que tem ido para a rua gritar, protestar e exigir saúde
pública de qualidade é a voz dos médicos. A população exigiu muito saúde
pública de qualidade padrão FIFA, mas não conseguiu materializar essa
proposta. Os médicos estão na rua materializando essa proposta. As
outras categorias estão acomodadas e o paciente que está sofrendo nos
corredores dos hospitais está sem voz. Somos a voz dessas pessoas e não
vamos nos calar, enquanto não melhorarmos a saúde brasileira”, destacou.
O Rio Grande do Norte passa por uma crise na saúde pública sem
precedentes. A pediatria é considerada uma das áreas mais críticas.
Durante o protesto de hoje, as pediatras Mylena Lima Bezerra e Ana
Karina da Costa Dantas, que trabalham no Hospital Pediátrico da UFRN
(Hosped) se somaram às outras profissionais e também reivindicavam
melhores condições de trabalho e salários mais dignos para os pediatras.
“Pediatras existem sim, o grande problema é que os pediatras não são
valorizados. Infelizmente é uma categoria médica que tem uma remuneração
relativamente baixa, se comparada com as demais especialidades médicas,
pois somos médicos exclusivamente clínicos e não temos outros tipos de
remuneração além da consulta médica. Isso desvaloriza a nossa profissão e
faz com que muitos de nossos colegas abandonem a pediatria”, afirmou a
pediatra Ana Karina da Costa Dantas.
A pediatra Mylena Lima Bezerra considera que uma das soluções para o
problema seria o Governo Federal incluir os pediatras no programa
Estratégia da Saúde da Família, uma vez que a demanda de crianças é
muito grande. “Não é só uma questão de remuneração, mas de condições de
trabalho, pois vemos muitas unidades de saúde que não tem pediatras,
pois eles pediram exoneração por se recusarem em trabalhar em péssimas
condições de trabalho”. A médica também criticou o Programa Mais Médico,
do Governo Federal. “O Programa vem querer tapar o sol com a peneira,
pois o problema é falta de estrutura básica nas unidades de saúde, para
que o profissional se sinta atraído a permanecer no interior. O governo
quer mascarar o problema da saúde responsabilizando uma categoria”.
A estudante do 12º período de Medicina da UERN, Constance Otoni,
disse que o sentimento de tristeza e de indignação persiste entre os
estudantes e residentes, porque, segundo ela, o Governo não escuta as
reivindicações da classe médica. “As medidas são arbitrárias e em nenhum
momento a classe médica foi consultada. Persistem os erros do Governo. O
nosso grande problema é a atenção básica e é necessária uma política
para fixar o profissional nessa atenção básica. Pois uma atenção básica
de qualidade vai desafogar os grandes hospitais, mas hoje a atenção
básica está falida. Nós não estamos sendo ouvidos pelo Governo, mas
precisamos estar nas ruas para informar o povo e não consentir com o que
o Governo tem feito com a gente”, destacou a estudante de Medicina.
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