quarta-feira, 24 de julho de 2013

Médicos suspendem atendimento no RN e reforçam críticas ao Governo Federal


Cerca de 200 pessoas participaram, entre médicos, residentes e estudantes. Foto: José Aldenir
Cerca de 200 médicos, residentes e estudantes saíram às ruas na manhã desta terça-feira (23) para protestar contra às medidas apresentadas pelo Governo Federal, como o Programa Mais Médicos e os vetos da presidenta Dilma .Rousseff, ao Ato Médico, que normatiza o exercício da Medicina. Além disso, os profissionais reivindicam por melhores condições de trabalho, como forma de fixar os médicos no interior. O ato de hoje faz parte da Greve Nacional dos Médicos e, segundo o Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed), o atendimento ambulatorial nas unidades de saúde e os procedimentos eletivos estão suspensos e a recomendação é que apenas os serviços de urgência e emergência estejam funcionando.
A caminhada saiu da sede do Sindicato dos Médicos em direção ao calçadão da rua João Pessoa. Com gritos de ordem contra a presidenta Dilma, o ministro da saúde, Alexandre Padilha, e a governadora Rosalba Ciarlini, os profissionais médicos pretendem intensificar os protestos nos próximos dias. Segundo o calendário nacional de enfrentamento ao Governo Federal, nos próximos dias 30 e 31, haverá uma nova greve nacional. Nos dias 8 a 10, serão três dias de paralisação, que coincidirá com o Encontro Nacional das Entidades Médicas.
O presidente do Sindicato dos Médicos no RN, Geraldo Ferreira Filho, explicou que o protesto acontece em nível nacional contra o Programa Mais Médico, que segundo ele é “a maior fraude jurídica que o país já presenciou, pois explora mão de obra, fazendo de conta que está ensinando, prometendo, depois de três anos, dar um diploma a um suposto estudante, que na verdade está fazendo assistência à população”.
Geraldo reitera que a classe médica é contrária à ampliação de mais dois anos na graduação de Medicina, bem como a importação dos médicos estrangeiros sem revalidação. “O governo quer colocar esses médicos em locais de trabalho onde eles não podem reclamar das condições e nem possam pedir para ir para outro local, sob pena de serem devolvidos para seus países. Isso é trabalho escravo. A medida é toda equivocada e traz um prejuízo enorme, não apenas à Medicina, mas à assistência pública brasileira”.
Geraldo Ferreira considera que a saúde no Rio Grande do Norte passa por um processo de degradação da assistência, que supera a realidade dos outros estados. “Está na hora de uma cobrança maior e mais efetiva de priorização da saúde, porque o povo está desassistido e a linguagem do Governo é de desativação de unidades. A única proposta que vemos é de fechar seis hospitais regionais e isso vai promover o caos generalizado na saúde pública”, destacou.
“A única voz que tem ido para a rua gritar, protestar e exigir saúde pública de qualidade é a voz dos médicos. A população exigiu muito saúde pública de qualidade padrão FIFA, mas não conseguiu materializar essa proposta. Os médicos estão na rua materializando essa proposta. As outras categorias estão acomodadas e o paciente que está sofrendo nos corredores dos hospitais está sem voz. Somos a voz dessas pessoas e não vamos nos calar, enquanto não melhorarmos a saúde brasileira”, destacou.
O Rio Grande do Norte passa por uma crise na saúde pública sem precedentes. A pediatria é considerada uma das áreas mais críticas. Durante o protesto de hoje, as pediatras Mylena Lima Bezerra e Ana Karina da Costa Dantas, que trabalham no Hospital Pediátrico da UFRN (Hosped) se somaram às outras profissionais e também reivindicavam melhores condições de trabalho e salários mais dignos para os pediatras.
“Pediatras existem sim, o grande problema é que os pediatras não são valorizados. Infelizmente é uma categoria médica que tem uma remuneração relativamente baixa, se comparada com as demais especialidades médicas, pois somos médicos exclusivamente clínicos e não temos outros tipos de remuneração além da consulta médica. Isso desvaloriza a nossa profissão e faz com que muitos de nossos colegas abandonem a pediatria”, afirmou a pediatra Ana Karina da Costa Dantas.
A pediatra Mylena Lima Bezerra considera que uma das soluções para o problema seria o Governo Federal incluir os pediatras no programa Estratégia da Saúde da Família, uma vez que a demanda de crianças é muito grande. “Não é só uma questão de remuneração, mas de condições de trabalho, pois vemos muitas unidades de saúde que não tem pediatras, pois eles pediram exoneração por se recusarem em trabalhar em péssimas condições de trabalho”. A médica também criticou o Programa Mais Médico, do Governo Federal. “O Programa vem querer tapar o sol com a peneira, pois o problema é falta de estrutura básica nas unidades de saúde, para que o profissional se sinta atraído a permanecer no interior. O governo quer mascarar o problema da saúde responsabilizando uma categoria”.
A estudante do 12º período de Medicina da UERN, Constance Otoni, disse que o sentimento de tristeza e de indignação persiste entre os estudantes e residentes, porque, segundo ela, o Governo não escuta as reivindicações da classe médica. “As medidas são arbitrárias e em nenhum momento a classe médica foi consultada. Persistem os erros do Governo. O nosso grande problema é a atenção básica e é necessária uma política para fixar o profissional nessa atenção básica. Pois uma atenção básica de qualidade vai desafogar os grandes hospitais, mas hoje a atenção básica está falida. Nós não estamos sendo ouvidos pelo Governo, mas precisamos estar nas ruas para informar o povo e não consentir com o que o Governo tem feito com a gente”, destacou a estudante de Medicina.

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