terça-feira, 3 de julho de 2012

Assepsia: áudios envolvem procurador do município

Entre as novas interceptações telefônicas liberadas ontem pela manhã pelo Ministério Público dentro da Operação Assepsia pelo menos três diálogos citam de forma direta o procurador municipal Alexandre Alves de Sousa, que se entregou ontem no quartel da Polícia Militar em Natal, dentro do esquema que fraudou contratos de terceirização celebrados entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Organizações Sociais (OS).


Magno é apontado como um dos cabeças do esquema fraudulento. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Num dos áudios interceptados, Rose Bravo, dona da Associação Marca e o esposo Antonio Carlos Oliveira Jr, o "Maninho", acertam um esquema de pagamento de vantagem, (a conversa estipula em R$ 5 mil) para o procurador Alexandre Magno Alves de Souza que estaria no Rio de Janeiro naquele momento. Em outra conversa Risiely Lunkes, representante da Associação Marca no RN se mostra bastante apreensiva em um diálogo com Rose Bravo quanto às consequências do depoimento que havia dado ao Ministério Público horas antes. "Eles fazem perguntas para chegar em outras, mas eu não revelei o nome de ninguém".

Modus operandi

No trecho mais longo, com quase uma hora de duração, num diálogo cujo tema central era uma crise conjugal entre "Maninho", Rose Bravo confirma a ligação da Marca com o empresário Tufi Soares Meres, atualmente foragido e procurado pelo Ministério Público no RJ.

Em outra longa conversa travada entre Myrian Elihimas Lima (representante legal do ITCI) e André Vinicius Guimarâes de Carvalho, advogado da associação, detalham o modus operandi da fraude no contrato do ITCI, pelo empresário Daniel Gomes da Silva, da Toesa, que teria total conhecimento do procurador Alexandre Magno Alves, mencionando o nome de Eugênio Pereira Lima Filho, que seria um sócio oculto da organização social.

Bruno Alves de Souza, primo do procurador Alexandre Magno, aparece em outra gravação conversando com Francisco Arnaldo Alves de Souza, tio de Alexandre. Na ligação, Francisco Arnaldo informa que falou com Eugênio Pereira Lima Filho e que o "o sócio oculto" incluiu serviços que não foram realizados na prestação de contas entregue pelo ITCI à SMS, afirmando que o contrato de emergência era "só para pegar dinheiro".

Há outra interceptação de uma conversa entre Risiely Lunkes e uma funcionária chamada Cristiane na qual é agendada uma reunião entre a "atual secretária municipal da saúde" com o empresário Tufi Meres, tido como pessoa formalmente estranha ao negócio jurídico celebrado pela SMS com a Marca. O empresário teve a prisão preventiva decretada no Rio de Janeiro e ainda está foragido.

Risiely aparece novamente em uma conversa com Giceli, superintendente provisória da Associação Marca em Natal. Na ligação é mencionada a discussão para a renovação do contrato de gestão da associação marca com a prefeitura, informando a vinda do empresário Tufi Meres a Natal para discutir os termos do novo contrato.


Operação Assepsia apontou fraudes na terceirização do serviço de administração de UPAs e AMEs em Natal. Foto: Joana Lima/DN/D.A Press
Rose Bravo da Associação Marca e Antonio Carlos Oliveira Jr. (Maninho) tratam do pagamento de vantagem para o procurador Alexandre Magno Alves de Souza.

Rose Bravo: "....Você tem como pegar um bolinho de cinco... doutor Alexandre deve passar daqui a pouco e pegar. Eu dei o endereço daí e disse: se Maninho tiver em casa, pega como Maninho"

Maninho: "Ta bom"

Aqui Rose Bravo e Maninho tratam do pagamento de vantagem para Alexandre Magno Alves de Souza e sobre a utilização do cartão de Gustavo de Carvalho Meres, filho de Tufi Soares Meres pelo servidor público municipal

Maninho: "... Alexandre falou que te ligou e te falou assim:`to sem dinheiro, meu cartão não tá passando. Será que o Maninho vem aqui me socorrer?´"

Rose Bravo: "Em momento algum eu falei isso. Ele queria o número do cartão do Gustavo para fazer uma reserva no hotel....ele me explicou que cartão ta bloqueado. Eu disse:`você ta precisando de algum, te faço um empréstimo. Aí ele falou que ia pedir o número do cartão do Gustavo. Eu disse:`ele não vai dar, só essa ordem vier de cima..."

Risiely Lunkes (Ex-Superintendente da Marca/Salute Sociale em Natal) comenta a Rose Bravo como foi o seu depoimento na Promotoria do Patrimônio Público, que não tinha revelado nenhum nome que pudesse comprometer o esquema.

Risiely Lunkes: "Eles fazem algumas perguntas para chegar em outras. Tem que ta ligado demais. Eles têm muitas informações mas não falei nenhum nome que não devesse.

Rose Bravo: "Entendi"

Risiely Lunkes: O interesse deles não é bem o que Alexandre falou não. O interesse deles é saber como a Marca veio parar aqui.

Rose Bravo: "Tem que perguntar ao gestor da época"

Diálogo entre Bruno Alves de Souza, primo de Alexandre Magno e Francisco Arnaldo Alves de Souza, tio de Alexandre Magno

Bruno Alves: "Recebesse alguma coisa?"

Francisco Arnaldo: "Falei com Eugênio (o sócio oculto do ITCI). Ele botou na planilha como se tivesse três pago três meses atendendo a prefeitura. Ele disse que o pessoal queria alugar meu prédio. Eu disse: Se você repassar pra prefeitura eu alugo. Ele falou pra eu ficar tranqüilo que já tinha colocado na planilha e que na semana que véu eu recebo meu dinheiro e te pago."

Bruno Alves: "Eu liguei lá e eles tão me enrolando, mas o comentário lá, aqui só pra nós, é que tu já recebeu."

Francisco Arnaldo: "Deixa eles falarem"

Myrian Elihimas Lima (representante legal do ITCI) e André Vinicius Guimarâes de Carvalho, advogado do ITCI

Myrian Elihimas Lima: "...Alexandre desde a semana passada tá botando pressão em mim. Isso e a planilha de custos..."

André Vinicius: "Encontrei com Alexandre e expliquei a ele como se fazia as atas, a documentação e ele aceitou tudo".

Myrian Elihimas Lima: "Pior que isso sujou o ITC. Bota meu nome no Google pra tu vê!" Vou dizer a Eugênio tudo o que tu me dizendo e que você falou com Alexandre."

André Vinicius: "...E a prefeita também não tem argumento pra defender nada..."

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