quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Cristovam Buarque: “A União tem que ser responsável pela educação”

Ex-ministro enxerga crise no sistema público de ensino e aposta na federalização do ensino básico. Foto: Caninde Santos
Para que o Brasil possa iniciar uma revolução no sistema de educação é preciso que a União se responsabilize pelo ensino básico. A avaliação é do senador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação, que esteve em Natal na manhã desta quarta-feira durante a realização da I Conferência sobre Educação Integral. Durante pronunciamento, o membro do Senado defendeu fortemente a federalização do ensino, acreditando que apenas o Governo Federal poderia solucionar a crise no sistema ao assumir todas as escolas do país de uma só vez.
A solução apontada por Cristovam Buarque para melhorar e igualar a qualidade da educação brasileira é tratar a educação como uma questão “do Brasil” e não dos municípios e estados. A federalização sugerida pelo senador consiste em duas ações. A primeira é criar uma carreira nacional do magistério, adotando, por exemplo, o que já existe entre professores de escolas técnicas e colégios militares: todos entrariam em uma carreira federal, com salário pago pelo Governo Federal. A segunda ação da proposta seria a adesão gradativa de grupos de municípios.
“Só tem um jeito de igualar as desigualdades do ensino no âmbito municipal e estadual: a União assumindo”, disse. “Se você tem um filho com algum problema e outro sem, apenas os pais podem igualar as duas situações. Os pais devem tomar medidas para compensar a deficiência de um filho em relação ao outro. É exatamente isso que deve se feito nos 5.564 municípios do Brasil. A União tem que ser responsável pelo o que há de mais importante no país: a educação de suas crianças”, explicou o senador.
A implantação do novo modelo, segundo o senador pedetista, seria possível em um curto prazo de tempo. Escolas federais modernas e bem equipadas, em tempo integral, substituiriam as atuais unidades escolares das redes municipais e estaduais de ensino e parte das particulares.
Para Cristovam Buarque, a federalização do ensino básico se justifica ainda em razão das desigualdades regionais, visto que Estados e Municípios pobres tem menos condições de investir em educação que outros governos em outra realidade financeira. “Além disso, há uma grande diferença entre o modelo pedagógico trabalhado pelas escolas municipais e aqueles existentes nas escolas estaduais. Deve haver um modelo único nas duas redes de ensino, mas isso só é possível com a federalização”, afirmou.
Membro do Conselho das Nações Unidades, órgão que calcula os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios, Cristovam afirmou que, apesar do Brasil ter melhorado nos índices, “ainda ficamos para trás em relação a muitos países”. Segundo dados divulgados nesta semana pela ONU, nos últimos 20 anos o IDH dos municípios brasileiros subiu quase 50% em média, considerando indicadores de expectativa de vida da população, saúde, renda e educação. Porém, desses, a educação foi o segmento que teve menor destaque.
“O Brasil tem que perder a mania de se comparar ele com ele. Temos que comparar o Brasil com os outros países. A educação está melhorando sim, mas há outros setores que estão melhorando mais. Nós perdemos o sentimento de nos comparar com o resto”, disse. “Se em uma Copa do Mundo o Brasil passa de quarto para terceiro lugar, por exemplo, ninguém fica satisfeito. Mas com a educação a gente fica satisfeito, quando vemos passá-lo  de 89º a 80º. O Brasil não melhorou suficientemente e precisa de uma revolução”, destacou.
Ainda segundo o senador, o que não permitiu o IDH brasileiro evoluir mais foi a educação. “O nosso Índice não diferencia matrícula de frequência, de assistência e de aprendizado. Hoje nossas crianças e jovens estão apenas matriculados. Se formos avaliar a matrícula, ela de fato melhorou muito nos últimos 20 anos. Agora quando vemos a frequência, já não é a mesma coisa. Quando se olha a assistência, mesmo que o aluno vá todo dia, ele fica batendo papo na sala de aula, disperso, de costa virada para o professor. E, em última avaliação, aqueles que ficam nas escolas não estão aprendendo como deveriam. O IDH só irá crescer quando fizermos uma revolução na educação”, finalizou.

Fonte: Jornal de Hoje

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