segunda-feira, 16 de julho de 2012

Os desafios do tratamento psiquiátrico no RN

Atenção à saúde mental esbarra em deficiências da rede básica e de estrutura no interior, 

A atenção psicossocial no Rio Grande do Norte precisa de recuperação. Superlotação das unidades, internação sem acompanhamento da família, instalações precárias e, após receber alta, tratamento sem medicamentos gratuitos e acessíveis são os principais entraves. Somado a isso, há o problema da deficiência na rede básica e na falta de estrutura nos municípios do interior do Estado. Sem ter para onde levar seus parentes com problemas de saúde mental, muitas pessoas acabam optando por trazê-los ao Hospital Colônia Dr. João Machado ou outra grande unidade de saúde.


Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Fazer a reforma psiquiátrica é urgente e necessário porque a situação atual é muito crítica. Na maior unidade de saúde do Estado que recebe pacientes com problemas psicossociais, o Hospital Colônia Dr. João Machado, em Natal, são 130 leitos de internação integral e mais 35 no pronto-socorro psiquiátrico, para atendimentos de urgência. A média de ocupação geralmente é de 100%. Para tratá-los, além dos 15 psiquiatras, há dez psicólogos e outros profissionais como assistentes sociais, enfermeiros e apoio. Antes da Lei 10.216/2001, que reformou a assistência psiquiátrica, o cenário era outro: alguns pacientes recebiam até choques elétricos para se manter calmos. "O João Machado de hoje é totalmente diferente do que foi há dez anos. A eletroconvulsoterapia é uma medida terapêutica que não existe mais. Foi proibida nos hospitais psiquiátricos porque era aplicada de forma inadequada. Se houver aplicação de choques o serviço é descredenciado do SUS [Sistema Único de Saúde]", afirmou Adriano Marcos Araújo de Souza, coordenador de saúde mental da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).

Os métodos ortodoxos como aplicação de choques elétricos para conter as crises não são mais aplicados. Hoje a eletroconvulsoterapia é proibida pelo Ministério da Saúde. Só que o fim de um método não solucionou a grande quantidade de problemas da saúde mental. A eletroconvulsoterapia foi abolida dos hospitais psiquiátricos, mas ainda é aplicada em hospitais gerais, sob sedação e anestesia para casos de resistência ao tratamento com remédios. Na psiquiatria, os pacientes agora são tratados através de equipes multidisciplinares, com aplicação de psicofármacos e assistência em grupos operativos e de terapia ocupacional.

No João Machado, há muitos momentos de lazer, com jogos, brincadeiras e futebol. Um novo método de recuperação. "É um tratamento humanizado, uma ação interdisciplinar e integrada", explicou a psiquiatra Myrna Chaves, diretora-geral do Hospital João Machado. "Só que ainda avalio a saúde mental no Estado como um todo deixando muito a desejar. Não há uma rede de atenção básica para atender à grande demanda. Falta assistência ambulatorial que evite as reinternações. Os pacientes saem estabilizados, mas como não há acompanhamento e eles voltam a ser internados", criticou a médica.

A diretora salientou que houve melhora, mas ainda há muito o que fazer. "Na época da aprovação da Lei 10.216, em Natal havia apenas dois CAPS. Agora, existem quatro, e alguns já atendem 24 horas, e existem os CAPS-AD, para álcool e drogas. Ainda assim, não atende à grande demanda de pacientes tanto com transtornos mentais como os dependentes químicos. O crack como uma epidemia mundial só piora o problema", constata Myrna. Num hospital psiquiátrico, uma das características é a agressividade dos pacientes mais arredios ao tratamento, especialmente após crises psiquiátricas. Para ajudar os profissionais de saúde, a unidade conta com um corpo de vigilantes. Três ficam na guarita de entrada, na Avenida Alexandrino de Alencar, dois no pronto-socorro, dois nas enfermarias masculina e feminina, e mais dois fazendo rondas no hospital.

As fugas preocupam. "Elas acontecem não com tanta frequência, mas ocorrem sim. Recorremos aos nossos seguranças, acionamos a polícia e entramos em contato com a família. Outro problema é a superlotação. Vivemos ocasiões em que temos todos os 35 leitos no pronto-socorro ocupados, e com 15 a mais nós denominamos leitos-chão. Esses pacientes ficam deitados em colchonetes, no chão mesmo. Quando isso ocorre, praticamente fechamos o pronto-socorro. Não temos mais condições de colocá-los aqui dentro do hospital", apontou a diretora Myrna Chaves

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