segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Copa que ninguém vê

Programa Começar de Novo ajuda ex-detentos a construírem uma nova vida



35 operários com penas alternativas participam das obras da Arena das Dunas. Foto: Ana Amaral/DN/D.A Press
Desde que Natal foi anunciada como uma das cidades para a Copa do Mundo de 2014, a Arena das Dunas passou a ser alvo de especulações se conseguiria ou não cumprir o cronograma até o dia da competição. Mas existe um lado da Arena que nunca foi falado. Em meio aos operários que trabalham no local estão ex-detentos, que participam de um programa promovido pela Conselho Nacional de Justiça e buscam uma segunda oportunidade para construírem suas vidas longe da criminalidade.

Quando o Brasil foi escolhido como país sede da Copa do Mundo, o CNJ elaborou um termo de cooperação técnica assinado com o Comitê Organizador Local (COL), o Ministério do Esporte e os estados e municípios que vão receber a competição para adotarem o programa Começar de Novo, que destina 5% dos postos de trabalhos, em obras com mais de 20 operários, para detentos, ex-detentos, cumpridores de penas alternativas e adolescentes que estejam com problemas com a lei.

No Rio Grande do Norte o Começar de Novo é conhecido como Novos Rumos. Atualmente na Arena das Dunas existem 35 trabalhadores nessas condições, entre aqueles que estão em regimes aberto e semi-abertos. "Nós fazemos o pedido de pessoal para o programa e eles mandam os trabalhadores. Nós nem sabemos que tipo de crimes eles cometem. Eles são tratados como todos os outros trabalhadores. Se não renderem o esperado, eles saem, como todos os outros, e pedimos outros para o programa", frisou Artur Couto, diretor de marketing da Arena das Dunas.

Dois dos regressos se dispuseram a conversar com O Poti. Para preservar a identidade de ambos, na matéria iremos identificá-los como JCS e AVS. Antes de passar a integrar o programa, JCS contou que já estava há mais de quatro meses procurando emprego, sem sucesso. "Eu corri atrás de trabalho, mas o pessoal sempre pediu o antecedente criminal. Eu ficava com vergonha de mostrar para eles. Você já via na cara do pessoal a desaprovação, o preconceito que eles sentiam para eu ser um regresso. Então quando eu descobrir esse programa foi uma alegria muito grande. É uma nova oportunidade na minha vida".

Ele ainda afirmou que não sente raiva das pessoas que lhe tratam com diferença. "Eu percebo quando alguém me trata de maneira diferente pela minha situação. Mas o que eu posso falar para eles é que eu estou pagando pelo crime que eu cometi, mas que agora eu estou tentando mudar de vida. Seguir pelo caminho do bem e deixar as coisas que eu fiz de ruim para trás".

Nenhum comentário:

Postar um comentário