segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Procurador-geral da República investiga propina milionária cobrada por José Agripino

Foto: Divulgação
O presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira, do PMDB, e a ex-governadora e atual vice-prefeita Wilma de Faria, do PSB, não são as únicas lideranças políticas do Estado supostamente envolvidos no esquema denunciado pela Operação Sinal Fechado. Além deles, o senador José Agripino, presidente nacional do Democratas, também parece no depoimento do “colaborador premiado” George Olimpio. O parlamentar é acusado de cobrar uma propina de R$ 1 milhão para levar o esquema irregular da inspeção veicular para o governo Rosalba Ciarlini (colega dele no DEM), em 2011, e agora deverá ser investigado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

É importante ressaltar que o depoimento de George Olimpio não é o único a citar o senador. Na verdade, ele apenas reforça o que outros dois réus, Alcides Fernandes e José Gilmar de Carvalho Lopes, conhecido como Gilmar da Montana, revelaram ao Ministério Público do RN. Por isso, o procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, decidiu encaminhar todas essas informações apuradas sobre a participação de Agripino e outros documentos entregues pelos delatores, para a Procuradoria-Geral da República, órgão que detém o poder de investigar os senadores.

“O Ministério Público não pode investigar um senador. Por isso, enviamos as informações colhidas em depoimentos e os documentos apresentados por George Olimpio para a Procuradoria-Geral da República tomar as providências”, afirmou Rinaldo Reis, que nesta sexta-feira ingressou com denúncia contra o presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira, acusado por George Olimpio de receber propina para agilizar a votação da inspeção veicular na Casa Legislativa potiguar.

Em maio de 2012, o lobista Alcides Barbosa assinou a colaboração premiada e detalhou a participação de José Agripino no esquema. Segundo ele, em um jantar ocorrido no apartamento do presidente nacional do DEM, em Natal, o grupo de articuladores da inspeção veicular no Estado foi levado ao “sótão” do prédio e lá foi discutido, com Agripino, o “apoio financeiro à campanha de 2010″.

No depoimento, Alcides narrou que Agripino pediu o dinheiro na hora, mas George acertou que só poderia fazer o pagamento em quatro cheques do Banco do Brasil, cada um no valor de R$ 250 mil. Eles seriam entregues a uma pessoa de confiança do senador Agripino.

O depoimento de Alcides Barbosa reforçou outro colaborador premiado: Gilmar da Montana, que teria assinado em novembro de 2011 um acordo com o Ministério Público do RN e relevado a propina cobrada por Agripino. Os advogados do empresário potiguar, no entanto, tentaram desconstituir esse depoimento, prestado, segundo eles, logo após a prisão de Gilmar na Operação Sinal Fechado.

A defesa do réu chegou, na época, até a procurar o Jornal de Hoje e descartou que Gilma tivesse assinado a delação premiada, garantiu que ele era inocente e afirmou que o depoimento foi prestado sobre forte pressão psicológica – logo após a prisão dele.

Além disso, o depoimento de Alcides acabou não tendo força suficiente, também, por ter sido negado por George Olimpio. Ainda sem assinar a delação premiada, o advogado, considerado o principal articulador do esquema, disse ser mentirosas todas as declarações do lobista.

“Todas as declarações, inclusive as que imputam práticas de corrupção a mim, ao Senador José Agripino Maia e outras pessoas, repito que são mentirosas, desprovidas de provas concretas (justamente por serem devaneios de um senhor em desespero) e se deram, única e exclusivamente para que o Sr. Alcides conseguisse a liberdade de sua prisão preventiva, ou ainda, pela quantidade de agentes políticos que aponta (sem uma única prova), talvez por cunho de perseguição política. O que já me foge à razão”, afirmou George Olimpio também em maio de 2012.

Além dele, o próprio senador Agripino Maia negou todas as acusações em entrevista a revista Carta Capital. Descartou ter realizado esse encontro em seu apartamento, ter recebido R$ 1 milhão e, até, possuir sótão. “Sótão é aquela coisinha que a gente sobe por uma escadinha. No meu apartamento eu tenho é uma cobertura”, ironizou ele.

 PARTICIPAÇÃO
Se antes negou o encontro e ajudou a enfraquecer o teor do depoimento de Alcides Barbosa, George Olimpio hoje confirma tudo o que o lobista falou antes dele ao Ministério Público. E mais: teria apresentado também provas físicas que ligariam o senador da República ao esquema.

Presidente nacional do DEM e principal aliado político de Rosalba Ciarlini no início da gestão dele, José Agripino seria importante para ajudar a levar a inspeção veicular para o governo DEM, iniciado no Rio Grande do Norte em 2011.

Montado inicialmente durante a gestão Wilma de Faria, em 2010, e continuado durante o governo Iberê Ferreira, já falecido, o esquema teria contado com a participação, segundo George Olimpio, de Ezequiel Ferreira, para ser aprovado rapidamente na Assembleia Legislativa, e com o senador Agripino para ser instalado na gestão Rosalba.

Por sinal, quando a operação Sinal Fechado foi deflagrada no final de 2011, o suplente de Agripino, o ex-deputado João Faustino, também já falecido, chegou a ser preso, acusado de envolvimento no esquema.

A operação havia sido consequência de escutas telefonicas e documentos que apontavam irregularidades na instalação do esquema já, inclusive, com a participação do então diretor do Detran, Erico Ferreira, nomeado por Rosalba Ciarlini para o cargo. A licitação que dava a Inspar, consórcio montado por George Olimpio para fazer a inspeção veicular no RN, foi cancelada e todas as medidas referentes ao processo foram canceladas.

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