Atenção à saúde mental esbarra em deficiências da rede básica e de
estrutura no interior,
A atenção psicossocial no Rio Grande do Norte precisa de recuperação. Superlotação das unidades, internação sem acompanhamento da família, instalações precárias e, após receber alta, tratamento sem medicamentos gratuitos e acessíveis são os principais entraves. Somado a isso, há o problema da deficiência na rede básica e na falta de estrutura nos municípios do interior do Estado. Sem ter para onde levar seus parentes com problemas de saúde mental, muitas pessoas acabam optando por trazê-los ao Hospital Colônia Dr. João Machado ou outra grande unidade de saúde.
Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
Os métodos ortodoxos como aplicação de choques elétricos para conter as crises não são mais aplicados. Hoje a eletroconvulsoterapia é proibida pelo Ministério da Saúde. Só que o fim de um método não solucionou a grande quantidade de problemas da saúde mental. A eletroconvulsoterapia foi abolida dos hospitais psiquiátricos, mas ainda é aplicada em hospitais gerais, sob sedação e anestesia para casos de resistência ao tratamento com remédios. Na psiquiatria, os pacientes agora são tratados através de equipes multidisciplinares, com aplicação de psicofármacos e assistência em grupos operativos e de terapia ocupacional.
No João Machado, há muitos momentos de lazer, com jogos, brincadeiras e futebol. Um novo método de recuperação. "É um tratamento humanizado, uma ação interdisciplinar e integrada", explicou a psiquiatra Myrna Chaves, diretora-geral do Hospital João Machado. "Só que ainda avalio a saúde mental no Estado como um todo deixando muito a desejar. Não há uma rede de atenção básica para atender à grande demanda. Falta assistência ambulatorial que evite as reinternações. Os pacientes saem estabilizados, mas como não há acompanhamento e eles voltam a ser internados", criticou a médica.
A diretora salientou que houve melhora, mas ainda há muito o que fazer. "Na época da aprovação da Lei 10.216, em Natal havia apenas dois CAPS. Agora, existem quatro, e alguns já atendem 24 horas, e existem os CAPS-AD, para álcool e drogas. Ainda assim, não atende à grande demanda de pacientes tanto com transtornos mentais como os dependentes químicos. O crack como uma epidemia mundial só piora o problema", constata Myrna. Num hospital psiquiátrico, uma das características é a agressividade dos pacientes mais arredios ao tratamento, especialmente após crises psiquiátricas. Para ajudar os profissionais de saúde, a unidade conta com um corpo de vigilantes. Três ficam na guarita de entrada, na Avenida Alexandrino de Alencar, dois no pronto-socorro, dois nas enfermarias masculina e feminina, e mais dois fazendo rondas no hospital.
As fugas preocupam. "Elas acontecem não com tanta frequência, mas ocorrem sim. Recorremos aos nossos seguranças, acionamos a polícia e entramos em contato com a família. Outro problema é a superlotação. Vivemos ocasiões em que temos todos os 35 leitos no pronto-socorro ocupados, e com 15 a mais nós denominamos leitos-chão. Esses pacientes ficam deitados em colchonetes, no chão mesmo. Quando isso ocorre, praticamente fechamos o pronto-socorro. Não temos mais condições de colocá-los aqui dentro do hospital", apontou a diretora Myrna Chaves
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