Servidores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)
interromperam o funcionamento do serviço de entrega de correspondências
na manhã desta terça-feira (16). Segundo os manifestantes, a paralisação
é uma advertência à direção regional da empresa e aborda em sua pauta a
ausência de condições de trabalho, melhorias salariais, falta de
sensibilidade gerencial e adequação da estrutura, entre outras
reivindicações.
A ação, realizada em frente à única central de distribuição da zona
Norte, na avenida João Medeiros Filho, no bairro Potengi, teve como
objetivo levar ao conhecimento da população as condições de trabalho
precárias a que os funcionários dos Correios são submetidos. Em um
primeiro momento os trabalhadores iriam parar por uma hora, mas quando
chegou a notícia de que a gerência regional aplicaria o corte de ponto,
houve movimentação no sentido de estender o ato.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do
Rio Grande do Norte (Sintect/RN) e diretor da Federação Interestadual
dos Trabalhadores dos Correios (Findect), Moacir Soares, o contingente
de funcionários lotados na região é insuficiente para suprir as demandas
geradas. “A zona Norte de Natal é uma área imensa, isso todos sabem.
Caso fosse desmembrada da capital, seria a segunda maior cidade do
Estado. Não tem o menor cabimento uma região deste tamanho ser coberta
por apenas 56 funcionários e uma central de distribuição. Para efeito
comparativo, a cidade de Mossoró é menor que a zona Norte, mas conta com
duas centrais e mais de 70 funcionários. É humanamente impossível
exercer as atividades aqui com um mínimo de qualidade. O resultado disso
tudo são atrasos, reclamações e a conseqüente insatisfação da classe”,
pondera o sindicalista.
Os servidores relatam que quando o serviço não satisfaz os anseios da
população, quem sofre o impacto imediato é a linha de frente, ou seja,
os carteiros. Para um deles, João Maria, é impossível que o serviço
permaneça sendo oferecido dessa maneira. “Nós (carteiros) somos a
vidraça dessa empresa. Quando uma encomenda atrasa, uma carta não chega,
nós é que somos maltratados. A direção nunca está à frente para encarar
os problemas de frente, a culpa sempre é do carteiro”, desabafa.
No momento do protesto, um morador do conjunto Novo Horizonte,
Raimundo Bernardo, se encontrava na sede do centro de distribuição para
tentar resgatar pessoalmente suas correspondências, mas não obteve
sucesso na empreitada. “Faz meses que eu recebo as faturas atrasadas lá
em casa, já depois do vencimento. Tem conta que só de multa por atraso
são mais de R$ 80. É um absurdo que eu tenha de pagar por uma falha que
não é minha. Eu resolvi vir buscar pessoalmente, para ver se pelo menos
os juros diminuem, mas a gerente não recebe ninguém. Vai ser o jeito
esperar em casa e pagar mais ainda pela demora”, afirma, indignado. A
reportagem tentou fazer contato com a gerente da unidade, Andréa Carmen,
mas foi informada de que ela, de fato, não poderia receber ninguém.
Moacir Soares critica, também, a incoerência no emprego de recursos
por parte dos Correios. “Não dá para entender como uma empresa mal
aparelhada, com severo déficit nos quadros de funcionários e prestando
um serviço de péssima qualidade investe R$ 15 milhões em publicidade. O
que mais se vê por aí é propaganda dos Correios, mas de nada adianta
tentar fortalecer a imagem sem levar em consideração o fator humano”,
aponta. Segundo dados do sindicato, a ECT conta com aproximadamente 1,5
mil funcionários no Rio Grande do Norte, metade deles só na capital.
Até o fechamento dessa edição, os sindicalistas seguiam com a
paralisação, pleiteando uma reunião com a direção regional da ECT. Eles
apresentaram, inclusive, um ofício endereçado ao Assessor da Gestão das
Relações Sindicais e do Trabalho dos Correios, João Maria Alves, em que
se solicitava a reunião para hoje (16). Também foi apresentado um ofício
de resposta, negando o pedido do sindicato e sugerindo que se
realizasse o encontro em outra data, entre os dias 22 e 26 desse mês.
Procurada pela equipe d´O Jornal de Hoje, a direção regional dos
Correios, a despeito da documentação apresentada pelos manifestantes,
afirmou, através de sua assessoria, desconhecer qualquer pedido de
reunião, reiterando que o canal de conversa com os trabalhadores e a
imprensa está sempre aberto.
Fonte: Jornal de Hoje