A Telexfree, empresa de marketing multinível operada pela Ympactus
Comercial Ltda., será investigada junto com outras cinco de mesma
natureza - BBom, NNEX, Priples, Multiclick e CIDIZ -, pelo Ministério
Público do Rio Grande do Norte. O inquérito civil público deverá ser
instaurado nos próximos dias para apurar indícios de esquema de pirâmide
financeira. A decisão ocorreu após reunião entre procuradores e
promotores de Defesa do Consumidor, Investigação Criminal e Grupo
Articulado de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), realizada ontem na
sede da procuradoria Geral de Justiça.
Adriano AbreuNestor Case, divulgador, diz que não há pirâmide no negócio
As
empresas foram selecionadas por terem atividades no estado, contudo
somente a Cidiz – cujo suposto produto comercializado são calçados e
vestuário - foi incluída por motivo de denúncia anônima sobre a formação
de pirâmide financeira. As demais, de acordo com o promotor de Defesa
do Consumidor, Alexandre Cunha Lima, não constam reclamações
formalizadas junto à Promotoria.
A falta de denúncias somada à
atuação de Ministérios Públicos de outros estados retardou a entrada do
órgão potiguar nas investigações, segundo o promotor. Após as dúvidas
levantadas sobre a atuação das empresas no país, que são alvo de
investigação também pelo Ministério da Justiça, os promotores decidiram
fazer a investigação para evitar perdas aos potiguares.
“O
objetivo de instaurar o inquérito é proteger a sociedade contra futuros
golpes. Pessoas estão sendo aliciadas, com o objetivo somente de ganhar
uma comissão”, disse o promotor de Defesa do Consumidor. Por ora, a ação
não se estende aos divulgadores, mas poderá ser ampliado.
Segundo
Alexandre Cunha Lima, o MP tem relatos de que muitos dos integrantes
das redes têm se desfeito de bens e até pedido demissão para se engajar
nas atividades dos grupos investigados. “Pelo que já analisei, os
primeiros que entram obtêm grandes lucros e cerca de 80% a 90% estão no
prejuízo, ou seja, a maioria perde dinheiro”, disse o promotor.
Para
isso, serão analisados os contratos, a existência de produtos e
serviços comercializados pelas redes ou uso somente como “fachadas” para
a captação de novos investidores. “Precisamos investigar se há mesmo o
produto e se sustenta a atividade, caracterizando o marketing
multinível, ou se este serve apenas para dar ar de legalidade às
operações”, afirma. Além da notificação das empresas, as informações
serão buscadas junto aos MPs dos estados com procedimentos abertos.
A
Telexfree é investigada também nos estados do Acre, Espírito Santo,
Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina, Goiás -
esse último apura a atividade de outras seis empresas.
Caso seja
comprovada a pirâmide financeira, os responsáveis pelas empresas podem
ser indiciados por crimes contra a economia popular, estelionato e
formação de quadrilha, podendo se estender até a sonegação fiscal, caso
não tenham ocorrido os repasses legais previstos em lei. “Caso
comprovada a ilegalidade, as medidas adotadas deverão ser similar às
adotadas no Acre, com o bloqueio de bens e entrada de novos integrantes,
desconsideração da personalidade jurídica e a parte criminal”,
antecipou o promotor.
O Ministério Público prevê o prazo de 90
dias para finalizar as investigações junto às empresas. O caso da
Telexfree ficará à cargo do promotor José Augusto Peres e o Bbom, com o
promotor Sérgio Sena.
CNJ
Em
menos de um mês, o Conselho Nacional de Justiça recebeu mais de 15 mil
reclamações contra a decisão da Justiça do Acre que, em caráter liminar,
suspendeu os pagamentos e novas adesões ao Telexfree. A demanda foi tão
grande que o órgão emitiu comunicado informando que não possui
competência constitucional para rever ou modificar decisões judiciais.
Entre
fevereiro e abril deste ano, a Ouvidoria havia registrado 5.732
manifestações, a maior parte tratavam sobre morosidade processual. Já no
caso do Telexfree, que não é de competência do CNJ, foram mais de 15
mil. O Conselho não informou a origem por estado das reclamações. O
levantamento, de acordo com a assessoria de imprensa, será realizado
somente após a Ouvidoria responder a todas as solicitações.