quarta-feira, 27 de junho de 2012

Alcaçuz: uma fuga por mês

Mais uma vez presos conseguiram escapar da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta - Região Metropolitana de Natal. Na madrugada de ontem, doze homens fugiram do Pavilhão 3 e expuseram novamente as fragilidades do maior presídio do Rio Grande do Norte. Por falta de efetivo da Polícia Militar, ao menos quatro guaritas estavam desativadas, inclusive as que são próximas ao local da fuga e poderiam ter visualizado e impedido a ação. Durante os primeiros seis meses de 2012, Alcaçuz registrou seis fugas, quando 68 homens escaparam da unidade. Outras inúmeras tentativas ocorreram, sendo abortadas por agentes penitenciários e Pms.
Adriano AbreuNa madrugada de ontem, pelo menos quatro guaritas estavam sem policiamento, o que facilitou a fugaNa madrugada de ontem, pelo menos quatro guaritas estavam sem policiamento, o que facilitou a fuga

A fuga da madrugada de ontem também expôs a fragilidade física da unidade prisional. Os homens escaparam do Pavilhão 3 e de lá, rastejaram até o muro do presídio. Sem a iluminação adequada, os detentos não foram flagrados enquanto cavavam um buraco na base do muro e assim conseguiram a liberdade de forma ilegal. Construído sobre uma área de dunas, o local da construção de Alcaçuz facilitou a escavação rápida dos presos, que não encontraram muita dificuldade em virtude do terreno e da estrutura do muro.

Escaparam Altair Rodrigues da Silva Santos, João Maria Wagner de Oliveira, Fagner de Oliveira da Cruz, Francisco de Assis Ananias Santos, José Marcos do Nascimento Bastos, Maibson Alisson da Silva, Luiz Carlos Alves da Silva, Natércio de Lima, Ricardo Alexandre de Paulo Dias,  Rosiel Luiz da Silva, Valdir Souza do Nascimento. Henrique Oliveira de Souza foi recapturado pouco tempo depois da fuga, sendo encontrado em Pium.

Diversos fugitivos são conhecidos da polícia pelos crimes de repercussão praticados. Valdir Souza do Nascimento responde por assalto e tráfico, e havia sido transferido do presídio de Nova Cruz para Alcaçuz. Conhecido como "Pé de Pano", devido a uma deficiência que tem no pé, Fagner Oliveira da Cruz, 29 anos, é considerado pela polícia um dos bandidos mais perigosos do Estado e que atua, sobretudo, no roubo de veículos. Foi preso no ano de 2010 após o rapto de um empresário.

Francisco de Assis Ananias dos Santos havia sido preso no ano passado pela Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor). Era acusado de participar de quadrilhas de arrombamentos de terminais bancários eletrônicos.  Em abril de 2011, fugiu do Presídio Provisório Raimundo Nonato e foi recapturado. Maibson Alisson havia fugido de Alcaçuz no dia 19 de janeiro desse ano, quando outros 40 escaparam do pavilhão de segurança máxima da unidade.
A direção do presídio não se pronunciou sobre o ocorrido. No Pavilhão 3 foram encontradas celas com cadeados quebrados. O mesmo cenário também foi encontrado no Pavilhão 2, mas os detentos desistiram da ação após a reação dos agentes e pms à fuga registrada instantes antes. Como a entrada da imprensa não foi permitida no presídio, a equipe de reportagem percorreu toda a extensão do muro externo da unidade. Ainda durante a manhã de ontem, quatro guaritas permaneciam desativadas por falta de efetivo.

Os policiais militares de serviço, que preferiram não se identificar, reclamaram da estrutura à sua disposição. Falta de iluminação, comunicação e apoio logístico são algumas das reclamações dos pms.

Reestruturação

O secretário de Justiça interino, Stênio Pimentel, reuniu ontem técnico da Sejuc para tratar de medidas de segurança e reestruturação do Sistema Penitenciário do Rio Grande do Norte. Participou do encontro, o delegado Kércio Pinto, que aguarda a liberação da Superintendência da Polícia Federal para assumir a titularidade da pasta. A Penitenciária Estadual de Alcaçuz recebeu atenção especial do grupo, em virtude da fuga registrada durante a madrugada de ontem, quando doze homens escaparam do Pavilhão 3. As informações foram repassadas através de nota pela assessoria da Sejuc e não foi detalhado o resultado do encontro.

Bate-papo

Henrique Baltazar, juiz de Execuções Penais

Quais foram as alterações que o senhor notou no Presídio de Alcaçuz desde a fuga histórica registrada em janeiro deste ano?

Continua tudo do mesmo jeito. Os problemas continuam ocorrendo. Não há nenhuma melhora, e houve até piora.

Como está o contato da Justiça com a Secretaria de Justiça do Estado, responsável pela administração dos presídios?

Estou esperando que o novo secretário assuma. Tentei contato com o secretário interino, mas não consegui.

O senhor enxerga alguma alteração do cenário de fugas recorrentes a curto ou médio prazo no RN?

Isso pode começar a ocorrer se a governadora assinar o TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] e convocar mais

agentes penitenciários. Está dependendo de um parecer burocrático para seguir para aprovação na Governadoria.

Ontem novamente haviam guaritas desativadas por falta de efetivo de policiais militares. Qual a solução para esse problema?

A Polícia Militar não cuida daquilo ali. Não há compromisso. Considero mais adequado que os próprios agentes penitenciários assumam a guarda externa. Mas para isso é necessário que se convoque mais agentes e haja previsão legal dessa função. Mas enquanto as guaritas forem de responsabilidade da PM, vai permanecer desse jeito.

Memória

Só este ano, o maior presídio do Estado já soma seis fugas, com 68 fugitivos:

9 de janeiro - Quatro presos fogem por túnel cavado no Pavilhão 1 do presídio. Outros 35 presos que estavam preparados para fugir tiveram a ação abortada pelos agentes penitenciários e policiais militares responsáveis pela guarda externa. Os homens que fugiram foram identificados como Júlio César Ferreira da Silva, Bruno Pierre Araújo Falcão da Silva, Lindomar Pereira do Nascimento e José Marcelo da Silva.

19 de janeiro - 41 detentos escapam do Pavilhão Rogério Coutinho Madruga sem serem notados por policiais militares ou agentes penitenciários. Autoridades só tomam conhecimento do fato após a prisão de três foragidos abordados durante patrulhamento de rotina na região.

3 de fevereiro - Duas semanas após o registro da maior fuga da história do RN, a Penitenciária de Alcaçuz volta a registrar uma fuga. Seis detentos escapam por um túnel já conhecido da direção, mas que não havia sido fechado de forma satisfatória.

28 de maio - Durante a madrugada, três homens escapam do Pavilhão Rogério Coutinho Madruga. Antônio José Emerenciano Ramos, José Rodrigo da Silva e Pedro Lucas da Silva Álvares fugiram, após terem conseguido sair da cela do pavilhão considerado de segurança máxima. Pedro Lucas Álvares foi recuperado pouco tempo depois.

8 de junho - Dois homens escapam da unidade utilizando uma "Teresa", corda formada por lençóis. Maikel Neves e Antônio Cândido trabalhavam na padaria da penitenciária e a aproveitaram a liberdade interna que dispunha para planejar e executar a fuga.

26 de junho - Durante a madrugada, presos escapam do pavilhão 3 e rastejam até o muro da unidade prisional. Com as guaritas desativadas, os detentos encontram tempo para cavar um buraco na base do muro e, assim, escapar. Doze homens fugiram, mas um detento foi recapturado pouco tempo depois.

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