Mais uma vez presos conseguiram escapar da Penitenciária Estadual de
Alcaçuz, em Nísia Floresta - Região Metropolitana de Natal. Na
madrugada de ontem, doze homens fugiram do Pavilhão 3 e expuseram
novamente as fragilidades do maior presídio do Rio Grande do Norte. Por
falta de efetivo da Polícia Militar, ao menos quatro guaritas estavam
desativadas, inclusive as que são próximas ao local da fuga e poderiam
ter visualizado e impedido a ação. Durante os primeiros seis meses de
2012, Alcaçuz registrou seis fugas, quando 68 homens escaparam da
unidade. Outras inúmeras tentativas ocorreram, sendo abortadas por
agentes penitenciários e Pms.
Adriano AbreuNa madrugada de ontem, pelo menos quatro guaritas estavam sem policiamento, o que facilitou a fuga
A
fuga da madrugada de ontem também expôs a fragilidade física da unidade
prisional. Os homens escaparam do Pavilhão 3 e de lá, rastejaram até o
muro do presídio. Sem a iluminação adequada, os detentos não foram
flagrados enquanto cavavam um buraco na base do muro e assim
conseguiram a liberdade de forma ilegal. Construído sobre uma área de
dunas, o local da construção de Alcaçuz facilitou a escavação rápida
dos presos, que não encontraram muita dificuldade em virtude do terreno
e da estrutura do muro.
Escaparam Altair Rodrigues da Silva
Santos, João Maria Wagner de Oliveira, Fagner de Oliveira da Cruz,
Francisco de Assis Ananias Santos, José Marcos do Nascimento Bastos,
Maibson Alisson da Silva, Luiz Carlos Alves da Silva, Natércio de Lima,
Ricardo Alexandre de Paulo Dias, Rosiel Luiz da Silva, Valdir Souza do
Nascimento. Henrique Oliveira de Souza foi recapturado pouco tempo
depois da fuga, sendo encontrado em Pium.
Diversos fugitivos são
conhecidos da polícia pelos crimes de repercussão praticados. Valdir
Souza do Nascimento responde por assalto e tráfico, e havia sido
transferido do presídio de Nova Cruz para Alcaçuz. Conhecido como "Pé
de Pano", devido a uma deficiência que tem no pé, Fagner Oliveira da
Cruz, 29 anos, é considerado pela polícia um dos bandidos mais
perigosos do Estado e que atua, sobretudo, no roubo de veículos. Foi
preso no ano de 2010 após o rapto de um empresário.
Francisco de
Assis Ananias dos Santos havia sido preso no ano passado pela Divisão
Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor).
Era acusado de participar de quadrilhas de arrombamentos de terminais
bancários eletrônicos. Em abril de 2011, fugiu do Presídio Provisório
Raimundo Nonato e foi recapturado. Maibson Alisson havia fugido de
Alcaçuz no dia 19 de janeiro desse ano, quando outros 40 escaparam do
pavilhão de segurança máxima da unidade.
A
direção do presídio não se pronunciou sobre o ocorrido. No Pavilhão 3
foram encontradas celas com cadeados quebrados. O mesmo cenário também
foi encontrado no Pavilhão 2, mas os detentos desistiram da ação após a
reação dos agentes e pms à fuga registrada instantes antes. Como a
entrada da imprensa não foi permitida no presídio, a equipe de
reportagem percorreu toda a extensão do muro externo da unidade. Ainda
durante a manhã de ontem, quatro guaritas permaneciam desativadas por
falta de efetivo.
Os policiais militares de serviço, que
preferiram não se identificar, reclamaram da estrutura à sua
disposição. Falta de iluminação, comunicação e apoio logístico são
algumas das reclamações dos pms.
Reestruturação
O
secretário de Justiça interino, Stênio Pimentel, reuniu ontem técnico
da Sejuc para tratar de medidas de segurança e reestruturação do
Sistema Penitenciário do Rio Grande do Norte. Participou do encontro, o
delegado Kércio Pinto, que aguarda a liberação da Superintendência da
Polícia Federal para assumir a titularidade da pasta. A Penitenciária
Estadual de Alcaçuz recebeu atenção especial do grupo, em virtude da
fuga registrada durante a madrugada de ontem, quando doze homens
escaparam do Pavilhão 3. As informações foram repassadas através de
nota pela assessoria da Sejuc e não foi detalhado o resultado do
encontro.
Bate-papo
Henrique Baltazar, juiz de Execuções Penais
Quais foram as alterações que o senhor notou no Presídio de Alcaçuz desde a fuga histórica registrada em janeiro deste ano?
Continua tudo do mesmo jeito. Os problemas continuam ocorrendo. Não há nenhuma melhora, e houve até piora.
Como está o contato da Justiça com a Secretaria de Justiça do Estado, responsável pela administração dos presídios?
Estou esperando que o novo secretário assuma. Tentei contato com o secretário interino, mas não consegui.
O senhor enxerga alguma alteração do cenário de fugas recorrentes a curto ou médio prazo no RN?
Isso pode começar a ocorrer se a governadora assinar o TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] e convocar mais
agentes penitenciários. Está dependendo de um parecer burocrático para seguir para aprovação na Governadoria.
Ontem novamente haviam guaritas desativadas por falta de efetivo de policiais militares. Qual a solução para esse problema?
A
Polícia Militar não cuida daquilo ali. Não há compromisso. Considero
mais adequado que os próprios agentes penitenciários assumam a guarda
externa. Mas para isso é necessário que se convoque mais agentes e haja
previsão legal dessa função. Mas enquanto as guaritas forem de
responsabilidade da PM, vai permanecer desse jeito.
Memória
Só este ano, o maior presídio do Estado já soma seis fugas, com 68 fugitivos:
9 de janeiro -
Quatro presos fogem por túnel cavado no Pavilhão 1 do presídio. Outros
35 presos que estavam preparados para fugir tiveram a ação abortada
pelos agentes penitenciários e policiais militares responsáveis pela
guarda externa. Os homens que fugiram foram identificados como Júlio
César Ferreira da Silva, Bruno Pierre Araújo Falcão da Silva, Lindomar
Pereira do Nascimento e José Marcelo da Silva.
19 de janeiro
- 41 detentos escapam do Pavilhão Rogério Coutinho Madruga sem serem
notados por policiais militares ou agentes penitenciários. Autoridades
só tomam conhecimento do fato após a prisão de três foragidos abordados
durante patrulhamento de rotina na região.
3 de fevereiro
- Duas semanas após o registro da maior fuga da história do RN, a
Penitenciária de Alcaçuz volta a registrar uma fuga. Seis detentos
escapam por um túnel já conhecido da direção, mas que não havia sido
fechado de forma satisfatória.
28 de maio -
Durante a madrugada, três homens escapam do Pavilhão Rogério Coutinho
Madruga. Antônio José Emerenciano Ramos, José Rodrigo da Silva e Pedro
Lucas da Silva Álvares fugiram, após terem conseguido sair da cela do
pavilhão considerado de segurança máxima. Pedro Lucas Álvares foi
recuperado pouco tempo depois.
8 de junho
- Dois homens escapam da unidade utilizando uma "Teresa", corda formada
por lençóis. Maikel Neves e Antônio Cândido trabalhavam na padaria da
penitenciária e a aproveitaram a liberdade interna que dispunha para
planejar e executar a fuga.
26 de junho -
Durante a madrugada, presos escapam do pavilhão 3 e rastejam até o muro
da unidade prisional. Com as guaritas desativadas, os detentos
encontram tempo para cavar um buraco na base do muro e, assim, escapar.
Doze homens fugiram, mas um detento foi recapturado pouco tempo depois.
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