O presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira, do PMDB, e
a ex-governadora e atual vice-prefeita Wilma de Faria, do PSB, não são
as únicas lideranças políticas do Estado supostamente envolvidos no
esquema denunciado pela Operação Sinal Fechado. Além deles, o senador
José Agripino, presidente nacional do Democratas, também parece no
depoimento do “colaborador premiado” George Olimpio. O parlamentar é
acusado de cobrar uma propina de R$ 1 milhão para levar o esquema
irregular da inspeção veicular para o governo Rosalba Ciarlini (colega
dele no DEM), em 2011, e agora deverá ser investigado pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
É importante ressaltar que o depoimento de George Olimpio não é o
único a citar o senador. Na verdade, ele apenas reforça o que outros
dois réus, Alcides Fernandes e José Gilmar de Carvalho Lopes, conhecido
como Gilmar da Montana, revelaram ao Ministério Público do RN. Por isso,
o procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, decidiu encaminhar todas
essas informações apuradas sobre a participação de Agripino e outros
documentos entregues pelos delatores, para a Procuradoria-Geral da
República, órgão que detém o poder de investigar os senadores.
“O Ministério Público não pode investigar um senador. Por isso,
enviamos as informações colhidas em depoimentos e os documentos
apresentados por George Olimpio para a Procuradoria-Geral da República
tomar as providências”, afirmou Rinaldo Reis, que nesta sexta-feira
ingressou com denúncia contra o presidente da Assembleia Legislativa,
Ezequiel Ferreira, acusado por George Olimpio de receber propina para
agilizar a votação da inspeção veicular na Casa Legislativa potiguar.
Em maio de 2012, o lobista Alcides Barbosa assinou a colaboração
premiada e detalhou a participação de José Agripino no esquema. Segundo
ele, em um jantar ocorrido no apartamento do presidente nacional do DEM,
em Natal, o grupo de articuladores da inspeção veicular no Estado foi
levado ao “sótão” do prédio e lá foi discutido, com Agripino, o “apoio
financeiro à campanha de 2010″.
No depoimento, Alcides narrou que Agripino pediu o dinheiro na hora,
mas George acertou que só poderia fazer o pagamento em quatro cheques do
Banco do Brasil, cada um no valor de R$ 250 mil. Eles seriam entregues a
uma pessoa de confiança do senador Agripino.
O depoimento de Alcides Barbosa reforçou outro colaborador premiado:
Gilmar da Montana, que teria assinado em novembro de 2011 um acordo com o
Ministério Público do RN e relevado a propina cobrada por Agripino. Os
advogados do empresário potiguar, no entanto, tentaram desconstituir
esse depoimento, prestado, segundo eles, logo após a prisão de Gilmar na
Operação Sinal Fechado.
A defesa do réu chegou, na época, até a procurar o Jornal de Hoje e
descartou que Gilma tivesse assinado a delação premiada, garantiu que
ele era inocente e afirmou que o depoimento foi prestado sobre forte
pressão psicológica – logo após a prisão dele.
Além disso, o depoimento de Alcides acabou não tendo força
suficiente, também, por ter sido negado por George Olimpio. Ainda sem
assinar a delação premiada, o advogado, considerado o principal
articulador do esquema, disse ser mentirosas todas as declarações do
lobista.
“Todas as declarações, inclusive as que imputam práticas de corrupção
a mim, ao Senador José Agripino Maia e outras pessoas, repito que são
mentirosas, desprovidas de provas concretas (justamente por serem
devaneios de um senhor em desespero) e se deram, única e exclusivamente
para que o Sr. Alcides conseguisse a liberdade de sua prisão preventiva,
ou ainda, pela quantidade de agentes políticos que aponta (sem uma
única prova), talvez por cunho de perseguição política. O que já me foge
à razão”, afirmou George Olimpio também em maio de 2012.
Além dele, o próprio senador Agripino Maia negou todas as acusações
em entrevista a revista Carta Capital. Descartou ter realizado esse
encontro em seu apartamento, ter recebido R$ 1 milhão e, até, possuir
sótão. “Sótão é aquela coisinha que a gente sobe por uma escadinha. No
meu apartamento eu tenho é uma cobertura”, ironizou ele.
PARTICIPAÇÃO
Se antes negou o encontro e ajudou a enfraquecer o teor do depoimento
de Alcides Barbosa, George Olimpio hoje confirma tudo o que o lobista
falou antes dele ao Ministério Público. E mais: teria apresentado também
provas físicas que ligariam o senador da República ao esquema.
Presidente nacional do DEM e principal aliado político de Rosalba
Ciarlini no início da gestão dele, José Agripino seria importante para
ajudar a levar a inspeção veicular para o governo DEM, iniciado no Rio
Grande do Norte em 2011.
Montado inicialmente durante a gestão Wilma de Faria, em 2010, e
continuado durante o governo Iberê Ferreira, já falecido, o esquema
teria contado com a participação, segundo George Olimpio, de Ezequiel
Ferreira, para ser aprovado rapidamente na Assembleia Legislativa, e com
o senador Agripino para ser instalado na gestão Rosalba.
Por sinal, quando a operação Sinal Fechado foi deflagrada no final de
2011, o suplente de Agripino, o ex-deputado João Faustino, também já
falecido, chegou a ser preso, acusado de envolvimento no esquema.
A operação havia sido consequência de escutas telefonicas e
documentos que apontavam irregularidades na instalação do esquema já,
inclusive, com a participação do então diretor do Detran, Erico
Ferreira, nomeado por Rosalba Ciarlini para o cargo. A licitação que
dava a Inspar, consórcio montado por George Olimpio para fazer a
inspeção veicular no RN, foi cancelada e todas as medidas referentes ao
processo foram canceladas.
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