Em registros gerais, a segunda grande manifestação da Revolta do
Busão que aconteceu nesta sexta-feira (28) em Natal foi considerada
tranquila. Por mais de cinco horas, cerca de dez mil pessoas desfilaram
pelas ruas da capital levantando questionamentos a cerca da qualidade
dos serviços públicos. Comparado ao último ato realizado no dia 20 de
junho, ontem não houve confronto direto entre manifestantes e policiais e
os atos de vandalismo foram restritos às pichações no patrimônio
público e privado. Além disso, o comando da Polícia Militar chegou a
apreender 27 pessoas, entre adolescentes e adultos, que estavam portando
materiais indevidos.
Após decidir em plenária qual seria o trajeto do movimento, a
primeira parada foi em frente à Câmara Municipal de Natal – que desde a
noite anterior estava isolada com proteção de ferro e tapumes. De lá, os
manifestantes seguiram até o bairro da Ribeira – onde reivindicaram
Passe Livre para estudantes e desempregados em frente ao prédio da
Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) e do Sindicato das Empresas de
Transporte Urbano (Seturn). Logo depois, pararam em frente à Prefeitura.
Na frente do Palácio Felipe Camarão, a Guarda Municipal reforçava a
segurança. No local, o grupo realizou outra plenária e decidiu que o
movimento seguiria até o Centro Administrativo.
Até então, segundo informações do comandante geral da Polícia
Militar, coronel Francisco Canindé de Araújo, oito pessoas haviam sido
apreendidas por estarem portando escudos, capacetes, baladeiras,
garrafas com combustíveis, coquetel molotov e pedras. “Nós revistamos
aquelas pessoas que estavam portando mochilas para identificar o porte
de materiais indevidos. O protesto foi bastante tranqüilo, mas nós não
nos descuidamos com esses pequenos detalhes, que vêm de pessoas que
gostam da desordem”, afirmou.
Os trechos mais conturbados no movimento foram nos cruzamentos da
avenida Prudente de Morais com a Apodi e com a avenida Alexandrino de
Alencar. “Nesses pontos conseguimos interceptar pessoas que estavam
querendo apedrejar concessionárias e lojas. Os prejuízos foram em um
veículo da Polícia Militar e em um veículo passeio de um morador, que
tiveram os vidros estraçalhados. Um dos nossos policias também chegou a
ser atingindo por uma pedra na cabeça, mas já passa bem”, disse.
Cartazes e faixas com reivindicações populares foram apresentadas
durante todo o movimento. Mas o maior registro identificado na manhã
deste sábado foram as pichações junto às paredes. Os bairros de
Petrópolis, Tirol e Ribeira, por exemplo, amanheceram cobertos com
palavras de ordem e desordem. Sob a proteção de tapumes, muitos prédios
conseguiram escapar da ação dos pichadores. Porém, espaços como o do
Seturn, Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, Datanorte, Companhia
Brasileira de Trens Urbanos e A República, além de diversos centros
comerciais, foram vítimas das pichações.
O comando da Revolta do Busão ficou de se reunir na próxima
segunda-feira (1º) para decidir sobre nova data de protesto. Porém, rola
nas redes sociais uma convocação para grande ato nacional, que deverá
acontecer em todas as cidades do país como uma “greve geral”. O ato
prevê participação de 10 milhões de pessoas em todo o País.
Comerciantes reclamam de prejuízo no faturamento
Apesar de apoiarem as bandeiras levantadas pelos protestos que vêm
sendo realizados em todo o País, os comerciantes enxergam uma
conseqüência negativa para sua atividade. João Paiva, aos 66 anos, é
dono de um espaço de comércio popular no Centro de Natal. Segundo ele, o
fato do comércio ser ‘obrigado’ a encerrar mais cedo causa prejuízo ao
bolso.
“Sou muito a favor dos movimentos, até porque esse meu espaço só foi
conquistado através de um protesto desses. A voz do povo tem muita
força. Entretanto, sentimos as conseqüências no bolso. Se nós tivéssemos
segurança para trabalhar enquanto as pessoas protestam nas ruas, não
teria problema nenhum. Mas não temos como identificar quem é da paz e
quem participa das manifestações com maldade. Por isso temos que fechar e
sofrer as consequências”, disse.
Identificando-se como “Mossoró Variedades”, outro comerciante também
aponta prejuízo nos lucros durante dias de protesto. “Para evitar danos
maiores, acabamos tendo que fechar geral e interromper nosso trabalho.
No final das contas, eu deixo de lucrar em apenas uma tarde cerca de R$
700″, afirmou.
Jorvan Raniere, gerente de uma farmácia popular localizada na rua da
Prefeitura, disse que seu ponto é sempre um dos mais prejudicados. “A
maioria das manifestações acabam chegando nessa rua. Com medo, muitas
pessoas preferem nem passar por perto. O nosso faturamento sempre cai
nessas situações. Ontem nós fechamos a farmácia às 13h40. Além de
prejudicar as pessoas que precisam de remédios, nós deixamos de lucrar
cerca de R$ 800″, declarou.
Um dos apreendidos no movimento é filho de vereador
Os policiais que estavam garantindo a segurança do protesto na tarde
desta sexta-feira apreenderam, logo no início do movimento, um grupo de
pessoas que estavam portando materiais que poderiam colocar em risco a
integridade física dos manifestantes. Entre os detidos estava o filho do
vereador Marcos Antônio, do PSOL, de apenas 17 anos. O parlamentar não
quis se pronunciar, mas, através de sua assessoria, explicou que o jovem
“é uma pessoa tranquila, pacífica e que estava preocupado com a própria
segurança, uma vez que no último protesto havia sido agredido
verbalmente”.
O menor de idade, que teve sua identidade preservada, “em momento
algum foi pego atingindo alguém ou depredando o patrimônio alheio na
manifestação”, conforme nota de esclarecimento divulgada pela assessoria
do vereador. A nota ainda esclarece que o rapaz não estava portando
coquetel molotov, conforme divulgado por alguns veículos de comunicação.
“O problema foi que ele foi interceptado no mesmo momento que outras
pessoas e os materiais foram confundidos”, afirmou o assessor de
comunicação do vereador.
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