O ex-atleta e ex-técnico da selecão japonesa conversou com o Fifa.com e analisou o jogo de estreia da Copa das Confederações.
Zico acredita que Brasil e Japão pode ser um dos duelos mais duros da história entre as duas equipes. |
Quando é tempo de um Brasil x Japão, Zico já nem se surpreende ao ser
chamado para falar do momento das equipes. Sua história nos dois países
– o seu, onde foi um dos maiores ídolos da história, e aquele cujo
futebol tanto ajudou a construir – é tão vasta e cheia de passagens
importantes que, num encontro entre as seleções, fica difícil encontrar
opinião mais embasada.
Às vésperas da partida de abertura da Copa das Confederações da FIFA
Brasil 2013, neste sábado (15), em Brasília, o Galinho falou com o FIFA.com
sobre com um pouco mais de detalhes sobre uma Seleção Brasileira em
formação e o Japão de Alberto Zaccheroni - já classificado para a Copa
do Mundo da FIFA Brasil 2014 e vivendo uma fase especial de ver
jogadores seus espalhados por algumas das ligas mais fortes do planeta.
Veja a análise que o craque fez, dias antes de partir para acompanhar
o jogão pessoalmente, da arquibancada do novíssimo Estádio Nacional
Mané Garrincha:
FIFA.com: Quais são suas expectativas para esse duelo entre Brasil e Japão?
Zico: Têm boas chances de esse ser um dos duelos mais duros da
história entre essas duas equipes. Por duas razões: porque a evolução
dos japoneses é cada vez maior, com mais e mais gente em campeonatos
como os de Alemanha, Itália, Inglaterra, Rússia... E também pela fase
que o Brasil vive hoje, em que ainda está em busca da escalação e da
formação ideal. Os japoneses devem chegar mais tranquilos, porque já
estão classificados para a Copa do Mundo, mas acho que eles ainda têm
uma dificuldade particular para enfrentar equipes sul-americanas. Então,
deve ser interessante.
E a que se deve essa dificuldade?
O grande
problema dos japoneses é se deparar com iniciativa, com criatividade.
Isso é algo que os surpreende bem mais do que a qualidade e a
organização que, no geral, podem caracterizar uma grande equipe
europeia. Quando o japonês se preparara para uma coisa e acontece outra –
um drible, um improviso, uma ação individual -, tende a se
desconcertar. E é justamente essa iniciativa que, muitas vezes, falta ao
Japão. Essa ideia de que errar é permitido e que, portanto, se podem
correr riscos. É algo cultural, e foi uma tecla em que bati muito. Mas
eles dificilmente tentam, por causa desse costume de achar que não podem
errar de jeito algum.
Você falou sobre o intercâmbio maior de japoneses na Europa. Além
da quantidade, trata-se de maior qualidade desses jogadores, que saem e
hoje têm papel de destaque em grandes clubes, como Shinji Kagawa ou
Keisuke Honda?
Olha, honestamente, eu não acho que nessa equipe atual do Japão tenha
algum jogador com o nível de um (Hidetoshi) Nakata, de um (Naohiro)
Takahara, um (Shinji) Ono ou um (Shunsuke) Nakamura. O que os japoneses
têm, hoje, na Europa são menos adversidades. Antes, a maioria era vista
com desconfiança, ficava no banco, raramente jogava. Hoje, não:
tornou-se mais comum e, então, eles jogam mesmo; são titulares.
Pelas características dos dois times, que tipo de partida você espera?
Tenho visto um Brasil que ainda se expõe um pouco mais do que
gostaria e que dá liberdade, principalmente, para chutes de fora. Foi
assim contra Inglaterra e França. As linhas ainda não estão compactas – e
não é à toa que a Inglaterra marcou dois gols de fora da área. Isso é
perigoso contra um time que tem alguém que chuta tão bem quanto o Honda,
além do (Yasuhito) Endo e do (Makoto) Hasebe.
E até hoje a sensação é especial para você numa partida que envolve o Japão?
Ah, sem dúvida. Há alguns meses, quando estava a cargo do Iraque,
enfrentamos o Japão pelas eliminatórias e precisei neutralizar essa
sensação de carinho pelo país e focar no lado bom: que eu conheço bem o
time do (técnico italiano Alberto) Zaccheroni e também o tipo emocional
dos japoneses.
Como essas características emocionais podem reagir diante do fato
de jogar a partida de abertura, num estádio lotado de brasileiros?
Bom, a grande responsabilidade é dos brasileiros – como favoritos e
como anfitriões. E eu, jogando pelo Brasil, já vi muito quanto o fato de
jogar em casa pode ser um tremendo estímulo, mas, também um elemento de
pressão extra. Isso é algo, que, aliás, com o Japão na minha época
felizmente conseguimos fazer muito bem: jogando em casa, não perdemos
nenhuma vez. O segredo – e o grande desafio – para a Seleção é conseguir
transformar o fator casa em algo positivo.
* Fotos da seleção japonesa: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
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