domingo, 3 de março de 2013

Construção de cisternas deve ser concluída em mais 15 dias

As chuvas que caíram na região do Alto Oeste Potiguar no mês de fevereiro ainda não foram suficientes para garantir aos agricultores dias tranquilos e longe da estiagem.  O Governo do Estado está concluindo, em mais 15 dias, o programa de cisternas na região, mas as poucas chuvas não bastaram para encher os reservatórios. Com capacidade para 16 mil litros, eles estão com menos de ¼ de água, o que tem levado os agricultores a fazer concessões severas quanto ao uso. 


No pequeno povoado de Baixas, no município de Luís Gomes, a dificuldade é tanta que chega a ser um contraste com o sorriso fácil de dona Maria de Lourdes Soares, 66 anos, e o alvoroço das crianças cada vez que a bomba é manejada para puxar a água da cisterna. "Como não choveu muito a gente tem que poupar esse pouquinho que deu para juntar", comenta a aposentada. Lá, a água é escassa e o acesso para se chegar ao pequeno distrito mais parece um rally de aventura. 

Aliás, foi essa dificuldade de acesso um dos critérios para que a pequena localidade, onde vivem 28 famílias, entrasse no Programa Nacional de Cisternas (P1MC), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome-MDS, e que levou o governo do Rio Grande do Norte, através da Secretaria de Trabalho e Assistência Social, a fazer um desembolso de R$ 1,5 milhão, a título de contrapartida, para que o programa pudesse ser executado no Estado. 

"Foi uma ação que demandou muitos esforços, muitas reuniões, muitas idas e vindas a Brasília", relembra o secretário estadual de Trabalho e Assistência Social, Luiz Eduardo Carneiro Costa, da Sethas. Ele ressalta, no entanto, que as cisternas não se configuram numa ação emergencial para a estiagem, mas uma ação permanente e de convivência com a seca. "São reservatórios de alvenaria que servem para o armazenamento de água das chuvas durante décadas e, portanto, não se constituem em uma ação de emergência. Trata-se de uma obra permanente", explica.     

Se as chuvas que caíram no município de Luís Gomes, nas últimas três semanas, não foram suficientes para encher os reservatórios da região como esperavam os agricultores, pelo menos serviram para dar uma pequena mostra de como ficarão as cisternas quando as chuvas ocorrerem regularmente. "Aqui nunca foi de chover muito, mas esse ano parece que está pior. As chuvas ficaram bem abaixo da média", informa o agricultor Marcelino Caitano do Nascimento, 72 anos, da comunidade Caititu, que nos últimos dias deu para anotar num caderno o índice pluviométrico na região.

"A última (chuva), no dia 17 (de fevereiro), foi de 12 milímetros. De lá para cá não choveu mais", esclarece. Nascido e criado no município vizinho - Riacho de Santana - só sente pelas 30 cabeças de gado que cria. "Se em um mês não chover mais eu acho que ele (o rebanho) não resiste", lamenta. Na região do Alto Oeste Potiguar  estão sendo construídos 1.301 reservatórios, com investimentos de R$ 4,7 milhões. No total, o programa prevê, até o final de junho, a construção de 3.100 cisternas de alvenaria em 47 municípios potiguares.

MDS emprega agricultores nas construções

O agricultor Francisco Everaldo de Carvalho, 29 anos, da localidade Poço de Pedra, no município vizinho Riacho de Santana, foi duplamente beneficiado pelo programa. Ganhou uma capacitação como pedreiro e trabalhou na construção de 14 reservatórios. Pelos serviços que fez recebeu R$ 1.750,00. Agora anseia por novos trabalhos. Antes, o único e parcos recursos com os quais podia contar eram os R$ 292,00 recebidos do Bolsa Família  e do Bolsa Estiagem, ambos programas de transferência de renda do governo federal, via MDS. "Estou na espera de mais trabalho", dispõe-se o rapaz, um agricultor sem safra (por isso, o Bolsa Estiagem), que agora também é pedreiro e pai de uma garotinha de 10 meses, razão pela qual recebe o benefício social Bolsa Família.  


As famílias beneficiadas pelo programa foram pré-selecionadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social. "Mas nós checamos cada uma, com base nos critérios de seleção do Ministério", explica Damião Santos, coordenador do projeto pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários-Seapac, instituição que venceu a concorrência pública, realizada pela Sethas para a execução do programa no Estado.

Escassez força uso racional da água armazenada

A incerteza quanto a ocorrência de novas chuvas na região deixa a maioria cautelosa. Eles preferem preservar a pouca água armazenada nas cisternas. "Sei lá o que vem por aí. Prefiro 'guardar' essa (água) que já caiu", previne-se o agricultor José Bernardo de Carvalho, 56 anos, da comunidade Poço de Pedras, que confiando em novas chuvas já plantou milho, arroz e feijão. Espera colher entre maio e junho, se chover.       


A dona de casa Rogeilda Maria de Almeida, 20 anos, do povoado Baixas, em Luís Gomes, é uma das poucas moradoras que já utiliza a pequena quantidade de água armazenada no reservatório em frente à sua casa nas tarefas domésticas, "mas só para beber, cozinhar e uns poucos serviços dentro de casa", explica. 

Ela também é beneficiária do Bolsa Família e com a água ao alcance da mão utiliza o dinheiro que recebe, pouco mais de R$ 200,00, para comprar gêneros alimentícios.  O trabalho de antes para buscar água numa cacimba a poucos quilômetros de sua casa agora é esporádico. Para o pai de Rogeilda, o agricultor Domingos Soares, 59 anos, ter um reservatório com água na porta de casa "foi o maior benefício, depois da energia elétrica".


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