No
pequeno povoado de Baixas, no município de Luís Gomes, a dificuldade é tanta
que chega a ser um contraste com o sorriso fácil de dona Maria de Lourdes
Soares, 66 anos, e o alvoroço das crianças cada vez que a bomba é manejada para
puxar a água da cisterna. "Como não choveu muito a gente tem que poupar
esse pouquinho que deu para juntar", comenta a aposentada. Lá, a água é
escassa e o acesso para se chegar ao pequeno distrito mais parece um rally de
aventura.
Aliás, foi essa dificuldade de acesso um dos critérios para
que a pequena localidade, onde vivem 28 famílias, entrasse no Programa Nacional
de Cisternas (P1MC), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome-MDS, e que levou o governo do Rio Grande do Norte, através da Secretaria
de Trabalho e Assistência Social, a fazer um desembolso de R$ 1,5 milhão, a
título de contrapartida, para que o programa pudesse ser executado no Estado.
"Foi uma ação que demandou muitos esforços, muitas
reuniões, muitas idas e vindas a Brasília", relembra o secretário estadual
de Trabalho e Assistência Social, Luiz Eduardo Carneiro Costa, da Sethas. Ele
ressalta, no entanto, que as cisternas não se configuram numa ação emergencial
para a estiagem, mas uma ação permanente e de convivência com a seca. "São
reservatórios de alvenaria que servem para o armazenamento de água das chuvas
durante décadas e, portanto, não se constituem em uma ação de emergência.
Trata-se de uma obra permanente", explica.
Se as chuvas que caíram no município de Luís Gomes, nas
últimas três semanas, não foram suficientes para encher os reservatórios da
região como esperavam os agricultores, pelo menos serviram para dar uma pequena
mostra de como ficarão as cisternas quando as chuvas ocorrerem regularmente.
"Aqui nunca foi de chover muito, mas esse ano parece que está pior. As
chuvas ficaram bem abaixo da média", informa o agricultor Marcelino
Caitano do Nascimento, 72 anos, da comunidade Caititu, que nos últimos dias deu
para anotar num caderno o índice pluviométrico na região.
"A última (chuva), no dia 17 (de fevereiro), foi de 12
milímetros. De lá para cá não choveu mais", esclarece. Nascido e criado no
município vizinho - Riacho de Santana - só sente pelas 30 cabeças de gado que
cria. "Se em um mês não chover mais eu acho que ele (o rebanho) não
resiste", lamenta. Na região do Alto Oeste Potiguar estão sendo
construídos 1.301 reservatórios, com investimentos de R$ 4,7 milhões. No total,
o programa prevê, até o final de junho, a construção de 3.100 cisternas de
alvenaria em 47 municípios potiguares.
MDS emprega agricultores nas construções
O agricultor Francisco Everaldo de Carvalho, 29 anos, da
localidade Poço de Pedra, no município vizinho Riacho de Santana, foi
duplamente beneficiado pelo programa. Ganhou uma capacitação como pedreiro e
trabalhou na construção de 14 reservatórios. Pelos serviços que fez recebeu R$
1.750,00. Agora anseia por novos trabalhos. Antes, o único e parcos recursos
com os quais podia contar eram os R$ 292,00 recebidos do Bolsa Família e
do Bolsa Estiagem, ambos programas de transferência de renda do governo
federal, via MDS. "Estou na espera de mais trabalho", dispõe-se o
rapaz, um agricultor sem safra (por isso, o Bolsa Estiagem), que agora também é
pedreiro e pai de uma garotinha de 10 meses, razão pela qual recebe o benefício
social Bolsa Família.
As
famílias beneficiadas pelo programa foram pré-selecionadas pelo Ministério do
Desenvolvimento Social. "Mas nós checamos cada uma, com base nos critérios
de seleção do Ministério", explica Damião Santos, coordenador do projeto
pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários-Seapac,
instituição que venceu a concorrência pública, realizada pela Sethas para a
execução do programa no Estado.
Escassez força uso racional da água armazenada
A incerteza quanto a ocorrência de novas chuvas na
região deixa a maioria cautelosa. Eles preferem preservar a pouca água
armazenada nas cisternas. "Sei lá o que vem por aí. Prefiro 'guardar' essa
(água) que já caiu", previne-se o agricultor José Bernardo de Carvalho, 56
anos, da comunidade Poço de Pedras, que confiando em novas chuvas já plantou
milho, arroz e feijão. Espera colher entre maio e junho, se
chover.
A dona de casa Rogeilda Maria de Almeida, 20 anos, do povoado
Baixas, em Luís Gomes, é uma das poucas moradoras que já utiliza a pequena
quantidade de água armazenada no reservatório em frente à sua casa nas tarefas
domésticas, "mas só para beber, cozinhar e uns poucos serviços dentro de
casa", explica.
Ela também é beneficiária do Bolsa Família e com a água ao
alcance da mão utiliza o dinheiro que recebe, pouco mais de R$ 200,00, para
comprar gêneros alimentícios. O trabalho de antes para buscar água numa
cacimba a poucos quilômetros de sua casa agora é esporádico. Para o pai de
Rogeilda, o agricultor Domingos Soares, 59 anos, ter um reservatório com água
na porta de casa "foi o maior benefício, depois da energia elétrica".
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